Paz utópica
J. J. Duran
As contínuas escaramuças (não crises) vividas pelo novo governo desde a posse foram uma espécie de marca registrada dos 100 dias de lua de mel do presidente Jair Bolsonaro com o eleitorado.
Existiu, nesse período, nítida falta de cautela verbal não só por parte do ex-capitão conhecido pela defesa intransigente de suas ideias, como também do círculo de assessores que o roteia na vida palaciana.
A moderação verbal é um mandamento quase religioso para um presidente eleito democraticamente como forma de suavizar as asperezas de suas manifestações, respeitáveis por certo, mas que podem deixar marcas negativas no perfil do maior mandatário da República.
Atribuir isso unicamente à falta de assessoria adequada é mitigar a personalidade que Bolsonaro sempre demonstrou em sua atuação política. Impor rótulos filhocráticos, feudalistas e sectários a quem não concorda com nosso pensamento é um retrocesso.
A personalidade forte é típica da formação recebida na esfera militar em qualquer país do mundo, mas esse viés autoritário personalista muitas vezes é incompreendido pelas pessoas simples.
Dentro desse cenário, amplamente repercutido pela grande mídia a cada erro simples ou ação conflitiva que produziu o presidente nesse período, também existiu a clara demonstração de que muitos meios de comunicação fizeram um grande esforço para criar uma separação entre o homem que representou a esperança com sua eleição e o hoje principal mandatário da Nação.
O enfrentamento entre a velha e a nova política é pura novela. Política é uma só e nos regimes presidencialistas o presidente é quem governa, mas o Parlamento é quem manda, pois representa todas as correntes de pensamento do povo. Não há nada em governos liberais, socialistas, reformistas ou nacionalistas que não seja feito conjuntamente por Executivo e Legislativo.
Conceituados analistas políticas dos anos 1970 costumavam dizer que esse entendimento se chama "paz utópica". E mais: que a política é mais frívola que a revista pornô.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras