Hora da superação
J. J. Duran
O discurso dos militares sóbrios e presos à ética, revestido na maioria das vezes da altivez própria das casernas, limita o orador e o contém dentro do âmbito cerimonioso dos pronunciamentos com clareza e sem intenções ocultas.
Todas as vezes que na vida dos povos aparecem vozes com pretensão tutelar, assistimos à implantação do autoritarismo na sua forma clássica de personalismo messiânico, nuance mais branda, mas não menos funesta, das autocracias salvadoras que se aprisionam na rede dos seus interesses misturados aos da República.
Hoje, pós-década do personalismo populista, governar o Brasil significa conciliar, criar um caminho pelo qual todos os brasileiros possam transitar independente das divergências que possam existir dentro do objetivo comum convergente da busca de uma ratificação dos valores próprios da República.
Velho é o sentir dos grandes imortais da República quando reclamaram que nenhuma pátria pode construir ou reconstruir sua grandeza sem que povo e Estado fechem a greta que os separa.
Chegamos ao fim dos 100 dias de graça que recebe da opinião pública todo novo governo eleito democraticamente. É chegada a hora de agir tanto para a sociedade quanto para os governantes.
De agora em diante não devemos olhar a República desde o pé do palanque eleitoral. Chegou a hora de superar as divergências que, mais que ideológicas, são conceituais e balizadas na busca de benefícios classistas.
A República e seus filhos estão fartos de prepotência e revanchismo mesquinho e ávidos em ver cumpridas as promessas de campanha.
Trabalhemos pela construção da República sonhada. Trabalhemos pelas reformas com conteúdo que reflita a esperança dos brasileiros.
A crise não pode ser ressuscitada pelo oportunismo da gestão política, seja da situação, seja da oposição. A sociedade exige autoridade democrática no governo e no parlamento, que precisam ser a voz de todo o povo, sem diferenças ideológicas ou interesses meramente partidários.
Que cada grupo defenda suas ideias e seu espaço, mas sem que isso retarde a marcha reconstrutora da arquitetura sociopolítica, cultural e econômica da República. Que cada um daqueles que se intitulam líderes trabalhe com humildade, honestidade e sem apelos populistas para não procrastinar por mais tempo a busca das soluções necessárias e urgentes.
O momento exige união, paz e sacrifício de todos para que o Brasil se consolide como potência, a mãe de toda indo-América.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras