Entre a cruz e a espada
J. J. Duran
Fazer ou dizer algo apenas de forma intuitiva ou com conhecimento de causa é o que diferencia o sábio do tolo. Vivemos um tempo em que a condenação prévia é parte de um esquema que apequena a quem fomenta a crítica sem uma análise conceitual.
Se Jair Bolsonaro quer se comunicar com seus eleitores pelas redes sociais sem disfarçar seu pensamento, não tem por que ser catalogado como fora da liturgia de seu mandato temporal de presidente da República.
Os meios de comunicação enviam cotidianamente diversos tipos de mensagens para seu público, e no plural e não para um grupo individualizado. E ninguém ousaria criticar um meio de comunicação por fazer entregar informações e análises divergentes de seu gosto.
Neste tempo político em que as confusões seguem gerando tuitadas e polêmicas, a estratégia da família Bolsonaro tem dois fins de ação política. Tem um vértice que nos leva a refletir sobre o grau de adesão conservado pelo presidente desde a posse, e outro que nos leva a visualizar o grau de adesão popular a uma oposição ainda não totalmente definida.
Ambos são parte de um tempo político em que, bem sabem os que por ofício ou por remuneração chamativa atuaram ou ainda atuam na política, é somente "um momento" que não se estenderá por muito tempo.
Pedir ao presidente que troque sua verborragia agressiva e desafiante depois de eleito seria reconhecer que ele teve um comportamento eleitoreiro e apresentou um falso perfil nacionalista durante a campanha. Foi sua forma de se posicionar sobre os diferentes temas que arrebatou uma multidão de seguidores e o levou a uma vitória consagradora nas urnas, queiram ou não os seus detratores que defendem a tese de que todo mito tem efêmera existência.
Fomentar o debate na política é parte do processo democrático. O perigo é quando a discussão divide a sociedade em partes irreconciliáveis como ocorre na vizinha Argentina, onde diminuem cada dia mais as possibilidades de diálogo para se encontrar o caminho da recuperação econômica, moral e social.
A discussão em tons menores classifica certos tuites e discursos como definidores de uma aberrante e inescrupulosa identidade ideológica autoritária. Se são bons, são da direita; se são ruins, são da esquerda - e vice-versa. Vale lembrar que a velha cruz e sua companheira, a espada, desde o princípio se erguem juntas.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras