Pequeno Príncipe, um século de...!
Michele Caputo Neto
À primeira vista o título deste artigo pode parecer algo inacabado. Poucas vezes deparei com tanta dificuldade para criar um título. Isso decorre da diversidade e grandeza da obra social do Hospital Pequeno Príncipe. As reticências podem ser substituídas por palavras como lutas, conquistas, inovações e outras, porque as realizações promovi-das desde 1919 fazem dele, hoje, o principal hospital de especialidades pediátricas do país.
Não me refiro só ao volume de serviços prestados como, em 2017, quando foram realizadas 20.551 cirurgias, 22.537 internações, 304.675 consultas, 829.076 exames e 127.650 atendimentos em diversas práticas humanizadoras, dentre outros.
Além da atenção direta à saúde de crianças e adolescentes na faixa de zero a 18 anos, por um corpo técnico e profissional qualificado e comprometido, os dirigentes do PP tiveram a coragem de ampliar seu leque de atuação. Em 2003 criaram a Faculdades Pequeno Príncipe e, dois anos depois, o Instituto de Pesquisas Pelé Pequeno Príncipe.
No que pode ser chamado de "Complexo Pequeno Príncipe", a assistência, o ensino, a formação profissional e a pesquisa científica fazem parte do cotidiano de mais de 1.800 estudantes e professores de medicina, enfermagem, farmácia, psicologia, biomedicina, de pesquisadores, especializandos, mestrandos e doutorandos que desenvolvem centenas de projetos.
Desde bem antes disso, em torno de 1930, o Pequeno Príncipe tem sido cenário de práticas de ensino de professores e estudantes dos cursos de medicina da UFPR, da PUC e da Universidade Positivo. Configura-se assim uma faceta sua que é pouco conhecida, pois se trata de um "Hospital Educador". Desde 1935, é um centro formador de pediatras no Brasil e mantém um programa de Residências Médicas, reconhecidas pelo MEC desde 1963.
Embora essas ações e seus resultados sejam por si mesmos bastante expressivos, deve ser também enaltecido o caráter inovador de muitas iniciativas da Instituição. Para exemplificar: o Programa "Família Participante", iniciado em 1982 com o nome de "Mãe Participante", que garante a presença de um acompanhante junto a cada criança hospitalizada, tornou-se política pública quase dez anos depois.
Outra ação de vanguarda nos anos 1980 foi o início do atendimento educacional às crianças hospitalizadas. A criança deixava de ser só "paciente" para ser também "agente"; a noção de "criança que nada sabe" foi substituída pela de "criança criativa e capaz"; e o professor um "educa-dor-aprendiz, que participa da busca do conhecimento e do aprendizado junto com as crianças". Esse projeto teve início antes mesmo da aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, que consagrou o direito à educação de toda criança ou adolescente hospitalizado.
A vocação inovadora não ficou restrita aos ambientes do hospital. Nos anos 2000, o braço educacional do Complexo iniciou o Curso de Enfermagem e foi ampliando até a oferta do Curso de Medicina, a partir de 2014. Todos os cursos utilizam metodologias ativas de ensino-aprendizagem, superam a dicotomia entre teoria e prática, aproximam as práticas nos ambientes acadêmicos dos serviços de saúde e dos espaços comunitários. Dessa forma a Instituição contribui para a formação de profissionais de saúde comprometidos com a atenção humanizada e ética.
Em meados da década passada foi criado o Programa de Mestrado e de Doutora-do em Biotecnologia Aplicada à Saúde da Criança e do Adolescente que desenvolve pesquisas reconhecidas nacionalmente. Foi impulsionador da criação recente do primeiro Biobanco do Paraná e do Laboratório Genômico. Em decorrência das inovações educacionais e do seu sucesso, em 2014 foi criado um Programa de Mestrado de Ensino nas Ciências da Saúde, voltado à formação de professores de medicina e das outras pro-fissões de saúde dotados das competências necessárias para a formação profissional que o país precisa.
Quem conhece ou já precisou dos serviços do Complexo Pequeno Príncipe sabe que essas palavras são insuficientes para retratar o que milhares de técnicos, profissionais, voluntários, dirigentes vem realizando em benefício de milhões de pequenos pacientes e suas famílias. Por isso não me aventurei a completar o título deste artigo. É melhor que fique em aberto para que caiba nele toda a gratidão e solidariedade que são merecedores os seus mentores, mantenedores e colaboradores.
Michele Caputo é farmacêutico, deputado estadual e ex-secretário de Saúde do Paraná