Surgido justamente em Cascavel no já longínquo janeiro de 1984, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) voltou a colocar a Capital do Oeste do Paraná no centro do polêmico debate em torno das invasões de propriedades feitas em nome de uma reforma agrária que, passados 35 anos, distribuiu menos de 100 mil títulos de propriedade no País todo.

O estopim foi um pronunciamento do deputado Coronel Lee na sessão de ontem da Assembleia Legislativa para historiar "a situação gravíssima" da área da Araupel, localizada em Quedas do Iguaçu, e pedir o apoio da Casa para que o Governo do Paraná não descumpra mais uma das muitas ordens judiciais de desocupação emitidas pela Justiça. "Só falta o pronunciamento do Legislativo para que isso seja feito", sustentou.

Segundo ele, tomar as terras da Araupel virou questão de honra para o MST depois que dois de seus militantes tombaram mortos num confronto com policiais por ocasião da primeira invasão, ocorrida ainda em 1996. "Fabricaram um motivo para justificar novas invasões", declarou Lee, que esteve inúmeras vezes em Quedas na condição de PM.

"Revólver pra eles é brinquedo. Ali é calibre 12 pra cima", continuou o deputado, sustentando que os sem-terra em Quedas possuem um grande arsenal de grosso calibre e classificando as invasões naquele local como afronta aos poderes constituídos e "uma vergonha nacional".

Dizendo ter provas de tudo que relatou, Lee chamou a atenção para o crescimento da criminalidade naquela região. Disse que oito pessoas morreram em conflitos entre os próprios acampados apenas em 2015 e levantou a suspeita de que outros mortos possam "estar enterrados naquelas terras".

LEMOS REAGE

A reação ao pronunciamento do Coronel Lee veio de outro deputado cascavelense. "O governo imperial doou esta área à família de José Ermirio de Moraes em troca da construção da ferrovia Norte-Sul. Esta ferrovia não foi construída e os títulos foram anulados por Getúlio Vargas. Em 2015, a Araupel foi condenada pela Justiça Federal de Cascavel a indenizar o Estado pelo uso indevido destas terras. No dia 1º de agosto de 2017, o TRF-4 confirmou a decisão da primeira instância, reiterando que as terras são da União", retrucou Professor Lemos.

"A Justiça já entendeu que a Araupel não é proprietária legítima das terras. Portanto, não precisava ter conflitos naquela região", continuou o deputado petista, assinalando que no Paraná "existem 330 assentamentos consolidados, com várias cooperativas importantes, que produzem arroz, produtos lácteos e derivados da cana de açúcar e da erva-mate".

Por fim, mas sem rebater os números relacionados à violência relatados por Lee, Lemos parabenizou os sem-terra, lembrou que a reforma agrária está prevista na Constituição e deixou claro que a luta do MST vai continuar para "transformar muitas áreas que não produzem em áreas produtivas".

REDUTO DE AMBOS

Embora tenham domicílio eleitoral em Cascavel, Coronel Lee e Professor Lemos foram os dois candidatos mais votados em Quedas do Iguaçu na eleição do ano passado para deputado estadual. Lee obteve 3.362 votos (21,02%) e Lemos 2.469 (15,44%). O terceiro colocado foi Nereu Moura (1.894 votos, ou 11,84% do total), que acabou não se reelegendo. (Foto: Arquivo)