Crise de representação
J. J. Duran
O presidencialismo no Brasil é resultado da fragmentada coalizão entre os partidos políticos que se apresentam como agremiações representativas da heterogênea composição da sociedade e se tornam situacionistas ou oposicionistas de acordo com os interesses programáticos menores, porém de alta valia para a conquista de benesses.
Não por acaso hoje existe uma desconfiança generalizada nessa massa representativa da política e nos gestores públicos, que são frutos saídos do ventre dos partidos associados à traição dos postulados éticos fraudulentamente desfrutados pelos líderes abraçados ao populismo, cenário que levou à eleição de Jair Bolsonaro como novo presidente do Brasil.
O ex-capitão do Exército e ex-deputado federal incorporou a mensagem restauradora de vernáculas tradições do povo, levando nelas sua proposta de rompimento com o passado político amoral e que sepultou tradicionais figuras públicas.
Bolsonaro busca nas bancadas temáticas do Parlamento o apoio incondicional aos seus projetos restauradores. E as bancadas mais influentes no espectro político nacional são, sem dúvida, a dos evangélicos, a dos ruralistas e a daqueles ex-uniformados convertidos em representantes políticos.
Essa busca se justifica pela necessidade de apoio para aprovar medidas altamente necessárias para restabelecer a ordem das contas públicas e a moralidade na gestão republicana e recriar o espírito de credibilidade sustentável nas relações entre governantes e governados.
São medidas denominadas de alto conteúdo popular na concepção tacanha do pensamento político e social comum às democracias indo americanas. Porém, nesse mapa conceitual o novo mandatário parece ter esquecido que as bancadas temáticas são a transversalidade dos partidos, o que as leva na hora de votar a carecer da disciplina necessária à unificação dos votos.
Bolsonaro representa o antidiscurso político, cujo centro de gravidade discursiva é a remoralização de tudo e de todos para recolocar o País nos trilhos do desenvolvimento e da justiça social.
Precisa ter em mente, no entanto, que igreja e poder jamais tiveram uma associação fechada no Brasil durante os últimos 30 anos, e que nem todos os eleitores professam a fé religiosa, assim como nem todos os professantes acreditam na política e nos políticos.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras