Apagam-se as luzes e o Cine Delfim dá os últimos suspiros
Quando os primeiros acordes de "Never on Sunday" em versão orquestrada ecoavam nas galerias lotadas, as luzes se apagavam e a plateia se acomodava nas poltronas para mais uma sessão. E, via de regra, o homem da lanterna era forçado a entrar em cena para acomodar os atrasadinhos e, claro, acalmar os engraçadinhos. Era uma espécie de senha para anunciar a abertura de mais uma emocionante sessão.
Essa agradável rotina, vivida por mais de três décadas a partir de 1968, segue viva na memória de dezenas de milhares de cascavelenses que tinham no Cine Delfim uma de suas diversões preferidas. Com o passar do tempo e a popularização da televisão, milhares de cinemas Brasil e mundo afora entraram em crise e fecharam as portas. Não foi diferente com o Delfim, que encerrou as atividades em 1996 e teve o prédio alugado para a Igreja Universal, que só ano passado mudou para outro espaço, distante apenas três quadras.
DEMOLIÇÃO
Há várias semanas, quem passa ao lado ou em frente o prédio localizado na esquina da Avenida Brasil com a Rua 7 de Setembro, dotado de uma arquitetura inovadora para a época em que foi construído, encontra vários operários e até uma retroescavadeira dentro dele, além de um tapume em volta a indicar que algo muito diferente da exibição de um filme está ocorrendo ali.
O piso e duas das quatro pareces já foram demolidos e em questão de semanas não restará mais o menor vestígio de que naquele endereço, por muitos e muitos anos, funcionou uma das salas de cinema mais frequentadas do Paraná. "Quem está bem por dentro do assunto é meu pai {Jacy Scanagatta}, que está na fazenda no Mato Grosso, mas sei que a ideia é construir ali um prédio com duas ou três salas comerciais", informou ao Alerta Paraná o empresário Omar Scanagatta, desfazendo a versão de que o terreno abrigaria um edifício residencial. "Não há espaço para estacionamento", alegou.
HISTÓRA
"O Bar Amarelinho, que já nos referimos especifícamente em outra crônica, era na verdade, nos anos 60, principalmente à noite, o ponto de encontro onde se discutia de tudo, e no mais das vezes a respeito de novos investimentos de interesse para a cidade de Cascavel, portanto foi lá que começou a surgir o Cine Delfim", registra o livro Histórias Venenosas, de Rubens Nascimento. "Cascavel conseguiu construir um cinema inédito, pois foi o segundo cinerama do Brasil, sendo que o primeiro era o Comodoro de São Paulo", acrescenta o texto.
No seu auge o Delfim funcionava sete dias por semana, e nos sábados e domingos costumava ter todos os seus cerca de 500 lugares tomados. Após anos a fio de superlotação, no entanto, a plateia foi minguando, minguando... até que o mais tradicional cinema da cidade deixou de ser um centro propagador da sétima arte para virar apenas mais um registro nas páginas da história. (Foto: Alerta Paraná)