Quem definiu o aniversário de Cascavel
Alceu A. Sperança
A Câmara de Cascavel teve legislaturas de grande qualidade. Em 1982, por exemplo, quando o povo começou o enterro definitivo da ditadura, foi eleita uma das composições mais qualificadas de todos os tempos.
O PMDB foi o grande vencedor da temporada, elegendo nada menos que 13 vereadores. O PDS, partido de José Sarney e Fernando Collor, que hoje nem existe mais, com alguns remanescentes ainda no PP, elegeu 8.
1982 foi um ano interessante. A geografia oestina profundamente afetada com a formação do lago de Itaipu, começavam as obras do trecho ferroviário Guarapuava-Cascavel. Um ano de muita chuva e muita seca. E como a ditadura se recusou a criar a Unioeste, que deveria ser federal, o Estado começou a criá-la nesse ano.
Entrava em operação a fábrica de rações da Coopavel, mas os agricultores estavam furiosos com a deprimente situação da triticultura e o acumpliciamento dos governantes com as transnacionais dos grãos.
Uma das particularidades da legislatura eleita em 1982 foram as três mulheres de sua composição: Marlise da Cruz, Egídia Covatti e Teresinha Depubel. Marlise teve quase 4 mil votos, cinco vezes mais que o PT e o PDT somados.
Foi uma legislatura que deixou saudades também porque o estimado professor Valmor Beux, o segundo mais votado nas eleições, seria assassinado no futuro. Seu colega Álvaro Palma, eleito na mesma legislatura, seria igualmente assassinado por empregados. Coisa impressionante, pois em 1982 Cascavel já parecia "civilizada"...
Vários vereadores da época se destacaram fortemente, dentro e fora das atividades políticas e são ativíssimos na sociedade atualmente. Renato Silva começou o ensino superior privado. Aldo Parzianello foi secretário de Estado. Hostílio Lustosa, secretário municipal e vice-prefeito. Giovani Paludo, excelente professor, secretário municipal.
Paulo Gustavo Gorski é secretário municipal, já esteve também no Estado. Hermes Parcianello, o Frangão, é deputado federal. Eduardo Fico de Castro, sobrinho do ex-governador Mário Pereira, foi o proponente da criação do Banco de Material de Construção, para casas populares - proposta, aliás, do nosso PCB, na época "escondido" no Setor Jovem do PMDB.
Dercio Galafassi e Antoninho Trento Filho se destacaram como importantes líderes empresariais. Dentre os suplentes, cabe lembrar nomes como Décio Mertz, que foi presidente da Upes e secretário municipal, Darci Cascavelão Israel e o poeta Nabuco Portes.
Foi essa brilhante legislatura que aprovou lei instituindo em definitivo o dia 14 de dezembro como data oficial do aniversário de Cascavel, resgatando a tradição agredida pelo incêndio criminoso de 1960. Uma legislatura de muita qualidade, portanto, correspondeu a leis igualmente de grande significado.
Destaque-se também que a lei 1.875/86, proposta pelo vereador Aldo Parzianello, não foi sancionada pelo prefeito de então, Fidelcino Tolentino, mas promulgada pelo então presidente da Câmara, José Cláudio Cavalcanti, e pelo secretário Hermes Parcianello.
Consultado na época pela Câmara, meu depoimento foi favorável ao 14 de dezembro, contra o 14 de novembro da traição do governador Bento Munhoz.
Não há nada mais a dizer a respeito desse assunto: a promulgação foi um ato soberano e firme da boa Câmara Municipal da longa legislatura 83-88, inegavelmente uma das melhores composições do Legislativo em todos os tempos.
(N.R. - Este artigo foi escrito em 2010 e está sendo republicado pelo Alerta Paraná diante da nova polêmica em torno da idade e da data de aniversário da cidade)
Alceu A. Sperança é escritor e jornalista