De Getúlio a Collor, familiares instauraram crises no governo
O envolvimento de um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro em questões relacionadas ao governo federal não é um episódio inédito na recente política brasileira, conforme levantamento histórico feito pelo Estadão. O vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, deu início publicamente à crise no Palácio do Planalto, após acusar o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, de mentir a respeito de sua relação com o presidente.
Bebianno deve ser exonerado nas próximas horas contra a vontade das alas política e militar do governo e promete "não poupar" Carlos em seus próximos relatos, garantindo que os fatos de que tem conhecimento devem respingar no presidente.
GETÚLIO VARGAS
O fato que culminou na crise do segundo governo de Getúlio Vargas (foto), que foi de 1951-1954, e posteriormente no seu suicídio, em 24 de agosto de 1954, tem relação direta com um de seus irmãos, Bejo (Benjamin) Vargas.
O jornalista e então vereador do Distrito Federal pela UDN (União Democrática Nacional), Carlos Lacerda, era um dos principais oposicionistas do governo e fazia uso do seu jornal, Tribuna da Imprensa, para criticar Vargas. Em 5 de agosto de 1954, Lacerda foi uma das vítimas do atentado da Rua Toneleros, local da sua residência no Rio de Janeiro. O major-aviador Rubens Vaz, que fazia a segurança de Lacerda, foi morto nesta data, enquanto o vereador levou um tiro no pé.
Lacerda insinuou que o presidente estaria envolvido no atentado, mas as investigações apontaram que os mandantes do crime teriam sido o chefe da guarda pessoal de Vargas, Gregório Fortunato, e Bejo Vargas. O filho mais velho de Getúlio, Lutero Vargas, chegou a ser mencionado pelo atirador em um dos inquéritos, mas nunca foi indiciado. A crise no governo aumentou, levando o presidente a tirar a própria vida.
JOÃO GOULART
É comum atribuir ao político gaúcho Leonel Brizola um dos motivos pela ascensão do regime militar em 1964. Casado com Neusa Goulart, seu cunhado na época, João Goulart, era presidente do Brasil. Desde a posse de Jango, em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros, ele era visto como uma "ameaça comunista" ao País, argumento que quase impediu que Jango, eleito vice de Jânio, assumisse o cargo.
Brizola rompeu relações com Jango em 1963, quando tentava se candidatar para o cargo no Ministério da Economia, em meio a uma crise econômica. Ele acreditava que o governo federal deveria se alinhar somente com partidos de esquerda, a fim de evitar radicalmente a mobilização dos militares, enquanto Jango tentava articular relações menos extremistas, com partidos não alinhados completamente à pauta da esquerda.
As declarações públicas de Brizola defendendo tanto uma revolução, quanto o fechamento do Congresso Nacional menos de um mês antes da derrubada de Jango, agravaram ainda mais a situação. Jango e Brizola se exilaram no Uruguai após a instauração do governo militar.
FERNANDO COLLOR
Em entrevista à Revista Veja em maio de 1992, o irmão do então presidente Fernando Collor de Mello, Pedro Collor de Mello, revelou detalhes de um esquema de corrupção articulado pelo presidente e pelo ex-tesoureiro de sua campanha, Paulo César Farias. Ele acusou o tesoureiro de ser o "testa de ferro" do presidente.
Denúncias de desvio de dinheiro público para beneficiamento próprio por parte do presidente já haviam sido iniciadas antes, mas foi a partir do depoimento de Pedro que o Congresso Nacional instalou uma CPI para apurar a relação dos negócios de PC Farias com o governo federal. Contas fantasma sob o nome das empresas de PC Farias, relacionadas ao governo, eram utilizadas para os desvios e para pagamentos.
A Câmara dos Deputados abriu o processo de impeachment de Fernando Collor em setembro de 1992 e o afastou do cargo, mas antes de o Senado votar o afastamento, ele renunciou. (Foto: Arquivo)