Os velhotes e os outros
J. J. Duran
Precisa o novo governo, liberal e reformador dos costumes republicanos, não insistir tanto nas declarações dando a reforma da Previdência como objetivo primordial para iniciar a reconstrução das finanças públicas, que foram carcomida pela incompetência e pela roubalheira sem controle de ex-ocupantes temporários do poder.
Segundo livreto fartamente lido desde as tribunas oficiais, a reforma previdenciária é necessária para evitar a quebra futura do sistema financiado com o dinheiro dos trabalhadores em nome do direito à aposentadoria.
O superministro Paulo Guedes, reconhecido como detentor da última palavra no novo governo quando o assunto envolve as finanças, e o ministro Onyx Lorenzoni, também ocupante de papel estratégico, estão cientes que não existe ordem jurídica ou moral que ampare minorias privilegiadas que se negam a compartilhar o custo dessa reforma.
Os velhotes unificam o pensamento de que essa casta de intocáveis está composta pelas famosas corporações de ignotos membros da classe política, ou ex-representantes da sagrada senhora dos olhos vendados que, junto com os hierarcas do feudalismo burocrático estatal, recebem polpudas aposentadorias, quando não pensões de caráter vitalício.
No cenário altamente conflitivo em que tramita a que se propõe ser uma reforma substancial para evitar a falência do sistema, não existe lei que proteja os interesses das classes dominantes com suas fabulosas aposentadorias. E esse raciocínio se desenvolve a partir das manifestações corriqueiras dos responsáveis por comunicar ao povo o estado dramático da quase falida Previdência Social.
Os inominados, por serem da alta cúpula da sociedade secreta universal do poder, formam o mundo imaginário dos marajás de Fernando Collor e são recebedores de fortunas mensais do sistema previdenciário.
Toda a temática até ontem abordada por fracassados ventríloquos reformistas parece sustentar-se no problema ocasionado no sistema provincial pelos velhotes, como se deles de fato fosse a culpa.
A aposentadoria não é óbolo que, graciosa e desprendidamente, dá a República aos seus filhos quando estes chegam ao tempo final da existência terrena tendo que ouvir da boca dos guardiões dos cofres públicos que o dinheiro está escasso para eles.
Enfim, a "riqueza" da aposentadoria não pode ser privilégio de minorias intocáveis ou de integrantes das corporações que se autointitulam diferentes do resto do povo.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras