A ditadura democrática
J. J. Duran
Essa expressão, que tem aparecido com frequência no cenário político indo americano, significa a implantação da ditadura cruel mascarada pelas urnas. Uma democracia barata, colocada a serviço do melhor impostor e fruto da paralisia cerebral humana e que se apoia na figura da intocável "senhora Justiça". É, na verdade, a ditadura das togas, que busca legitimar no poder quem diz, ardilosamente, governar em nome do povo.
Isso se tornou uma anomalia frequente a maquiar a sórdida associação existente entre determinados senhores de toga e militares que, saídos do ventre da sociedade, se convertem em garantia de estabilidade aos fantoches disfarçados de mandatários.
Nicolás Maduro apodreceu moralmente junto com sua "ditadura democrática" bolivariana, e sem remorso algum pela fome exposta ao mundo nas longas e sofridas caravanas de venezuelanos em busca da sobrevivência.
Devastada a economia outrora majestosa graças ao ouro preto extraído dos poços petrolíferos do Maracaibo, restou a violência selvagem perpetrada pelo motorista de ônibus que virou presidente e outros personagens sinistros que mostram ao mundo o fracassado sonho integracionista do coronel Hugo Chávez.
O populismo e o silêncio cúmplice dos meios capitalistas, por paradoxal que possa parecer, são as vitrines que procuram desvirtuar a realidade venezuelana.
Lembro-me de minha passagem pela Venezuela com sua Caracas majestosa e opulenta num tempo em que a população local recebia aos que estavam de passagem com a velha fraternidade própria do país. Mas são lembranças que se perdem nas brumas de um tempo no qual a palavra liberdade passou a significar cárcere ou desterro.
Neste tempo político pelo qual passa a indo América, com sua agitação socioeconômica superficial, o efêmero parece ser eterno, e o irrelevante, para os que querem ver a realidade, ocupa o centro de toda a problemática.
Na Venezuela de hoje a palavra de ordem saída da boca dos deserdados é "salve-se quem puder". A imprensa, amordaçada ou comprada a peso de ouro, se conduz de forma ridícula, noticiando a mentira como se verdade fosse.
Jesus Cristo, no ápice de sua agonia, fez ao Pai uma pergunta e morreu sem ter a resposta. Bem ou mal comparando, o mesmo acontece com os venezuelanos, que só hoje se dão conta do equívoco cometido ao acreditarem no populismo.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras