Realidades e utopias
J. J. Duran
Ao chegar democraticamente ao poder, muitos políticos enfrentam o conflito estabelecido entre suas intenções e o verdadeiro quadro enfrentado pela República. Utopia x realidade, manifestou J. Kennedy.
A situação que tanta tinta faz gastar aos mais impulsivos analistas políticos encobre um duplo problema, cuja resolução é fundamental para se chegar à solução mais adequada.
Durante a tomada de decisões na solidão do gabinete, todo mandatário reflete sobre as incertezas da sua visão para alcançar as soluções necessárias, confrontando-as com a realidade do momento.
É aí que ele começa a compreender que, no poder, as utopias significam impossibilidades, e que entre suas intenções e a conclusão final existe um caminho longo e recheado de impossibilidades legais e políticas, ou de momentâneo interesse para benefício da equipe de assessores que ele nomeou.
Para certos personagens, esse planteamento circunstancial muitas vezes se choca frontalmente com o pensamento kafkiano, que manifesta que a utopia ignora as impossibilidades.
Nesse instante o governante surgido do voto democrático chega a compreender, não sem manifesta amargura, que suas promessas de campanha agora devem se someter a uma simples relação imposta pela democracia, entre o possível e o impossível, que é variável dependendo do cenário.
Assisti há poucos dias uma declaração de Jair Bolsonaro sobre a reforma da Previdência Social que gerou polêmica. O ex-capitão do Exército expressou sinceramente seu pensamento sobre a idade mínima que deveria alcançar o trabalhador para receber o direito à aposentadoria, fruto de uma longa e difícil jornada laboral.
Aposentar-se é um direito e não um benefício, ao contrário do que colocam certos reformistas retrógrados, e normal foi o declarado pelo presidente, cujo pensamento sobre a idade mínima se diferenciuou daquele que o aparato burocrático defende.
Ruim não foi a discrepância, mas o tratamento jornalístico que se deu à declaração de Bolsonaro. Não é uma tragédia o pensamento divergente. Tratégia é a imposição de soluções que afetarão dolosamente aos velhinhos no futuro.
Dessa espécie de ópera prima escrita, falada e visualizada sobre Bolsonaro e seu pensamento deve-se concluir que o novo presidente, homem de formação militar e nacionalista, deverá enfrentar o conflito entre seu pensamento e a realidade da situação. No universo de Kafka, todo imaginário é real e toda a realidade é imaginária.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras