Chacota, zombaria, deboche
Mary Zaidan
Paraíso da piada pronta, o Brasil definitivamente não é para iniciantes. Embora as frases-clichês não careçam de confirmação, o PT foi além da anedota ao relançar a candidatura do ex Lula, preso por corrupção e lavagem de dinheiro, para o Nobel da Paz de 2019. E o fez no mesmo dia em que a Lava-Jato prendia mais petistas, desta vez enrolados com a construção da Torre Pituba, sede da Petrobras em Salvador, obra orçada em R$ 320 milhões que, pelo milagre da corrupção, devorou R$ 1,2 bilhão.
Poucas horas depois, a Comissão de Valores Mobiliários denunciou a presidente cassada Dilma Rousseff, pupila e sucessora do ex, e outros 16, por irregularidades - termo sofisticado para roubalheira - na construção de Abreu e Lima, em Pernambuco, o mais caro complexo de refino do mundo.
Iniciada em 2005, a planta custaria U$ 2,3 bilhões, 40% vindos da PDVSA do então presidente da Venezuela Hugo Chávez. Bateu nos U$ 20 bilhões e ainda foi surrada pelo calote do companheiro bolivariano que nunca colocou nela um único centavo.
Sozinho, o descalabro Abreu e Lima deveria ter sido suficiente para punir toda a turma petista, incluindo o ex Lula e a presidente cassada, que dirigia o Conselho da petroleira quando a transação foi feita e, depois, avalizou as obras multimilionárias como mandatária maior do país.
Encravada em Suape e com pendências ambientais sérias, tem capacidade de processar cinco vezes menos do que a indiana Jamnagar, mas custou três vezes mais e opera com metade de sua capacidade. Tudo que a Petrobras quer é se livrar dela.
Na fantasia entabulada pelo PT, os bilhões afanados da maior estatal brasileira são pura perseguição. Nessa cantilena valem os números do resgate social que o PT alega ter sido feito por Lula entre 2003 e 2010, base da petição para que o ex receba o Nobel. Por óbvio, os petistas não falam dos anos Dilma, e muito menos que a miséria cresceu 25% entre 2012 e 2016, reflexo da gastança desvairada e de políticas públicas irresponsáveis.
O PT sabe das chances reduzidas do ex na Noruega. Mas pretender a indicação ao Nobel é mais um lance de marketing para reforçar o discurso de vitimização, falar com a militância, mobilizar mídia e agentes internacionais, e, principalmente, insistir na farsa de que Lula é um preso politico.
Zombaria pura.
Isso na mesma semana em que um único juiz supremo tentou soltar Lula e com ele quase 170 mil criminosos condenados, e outro da mesma Corte revogou uma Medida Provisória do presidente da República, torrando quase R$ 5 milhões que o país não tem.
O Brasil mais do que merece a pecha de que não é um país sério. Togados e até presos debocham dele.
Mary Zaidan é jornalista - zaidanmary@gmail.com