A realidade e o Mito
J. J. Duran
Conforme sua equipe econômica, o Governo Jair Bolsonaro vai cumprir à risca as diretrizes do plano que vem sendo apresentado aos brasileiros desde a véspera da campanha.
Esse núcleo de experientes economistas apelidados de Chicago Boys, por ter uma maioria de defensores da economia liberal, tem adiantado de forma homeopática algumas das medidas a serem implementadas a partir de janeiro de 2019.
E claro está que as reformas prioritárias, que o Brasil requer em caráter de urgência urgentíssima, caminham no sentido oposto ao daquelas que reinaram no mercado durante o tempo do populismo.
Exatamente por isso essa ação prioritária, um tanto ilusória tendo em vista o cenário político intrincado, deverá enfrentar dificuldades de aprovação no Congresso Nacional.
Um dos muitos alvos ilustres da Operação Lava Jato, o presidente do Congresso, Eunicio Oliveira, já deu o recado ao encabeçar o movimento que levou à aprovação recente de um aumento salarial superior a 16% aos ilustríssimos membros da Suprema Corte da Justiça brasileira, em uma verdadeira afronta a seus concidadãos velhinhos que têm a "culpa" de não morrer na intensidade que requerem as contas da Previdência Social, que se diz estar falida.
Eunicio se manifestou dizendo que, para ele, nada importa o que pensa Bolsonaro sobre o tema. Falando em nome de um poder contra o qual pesam incontáveis denúncias de prevaricação e corrupção, o número 1 do Congresso se posicionou totalmente na contramão daquele que em alguns dias será legitimamente empossado como novo presidente da República.
Como se isso não bastasse, em mais um ato sem a mínima nobreza republicana, Eunicio tirou da pauta do Senado o projeto autorizando uma licitação na área petrolífera que daria ao futuro governo um incremento de caixa estimado em mais de R$ 12 bilhões.
Outro exemplo de pobreza republicana foi dado por Rodrigo Maia, presidente da Câmara, ao não colocar em discussão a proposta respaldada publicamente pelo futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes, de dar autonomia formal ao Banco Central. Foi mais uma demonstração clara da falta do espírito público que se exige daqueles encarregados pelo voto de conduzir a bom termo os destinos da Nação.
Bolsonaro sempre declarou que não irá pactuar com a política imoral do "toma lá dá cá". Esqueceu-se, como velho habitante da Câmara dos Deputados, que o degradado Parlamento brasileiro ainda conta em sua composição com figuras capazes de fazê-lo cair na realidade que permeou as relações políticas brasileiras nos últimos tempos. Como resultado disso, o ex-capitão paraquedista, acostumado a dar saltos no vazio, terá que aprender a saltar sobre terrenos minados pela corrupção.
Concluindo: entre a triste realidade de uma democracia deformada e os sonhos purificadores do futuro governo, parece que a tarefa mais árdua será mudar a mentalidade vigente, ponto de partida para que o Brasil possa inaugurar uma nova etapa em sua história, na qual a justiça social seja verdadeiramente a prioridade.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras