Brastemp ou Embrapa?
Alceu Sperança
Cada centavo roubado pelos quadrilhões dos grandes partidos nos rendeu milhões de vergonhas - pelo voto maria-vai-com-as-outras provocado pela propaganda e pelo estelionato impune: os eleitos não precisam cumprir o que prometem.
Agora vai começar a campanha eleitoral. Alguns já fazem campanha antecipada há anos sem que isso lhes renda a mínima punição e ales se somarão a novatos para sair a público e prometer transformar o Brasil numa "Brastemp".
Sob uma saraivada de críticas, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) comemorou timidamente em abril seus 45 anos de existência. Sabe-se que 95% da pesquisa em milho, soja e algodão são feitas pela iniciativa privada. Há dez anos, 60% das variedades de soja utilizadas no cerrado foram desenvolvidas pela Embrapa. Hoje, não chegam a 5%.
A Embrapa, o que diz? Apontou em 2017 um lucro social de R$ 37,18 bilhões, obtido a partir da adoção pelo setor agropecuário de 113 tecnologias e de cerca de 200 cultivares. Para cada real aplicado, foram devolvidos R$ 11,06 para a sociedade. Orgulha-se de tropicalizar o trigo e aportar à soja uma cultivar resistente a nematoides, que tanta dor de cabeça deu aos agricultores.
Qual é a verdade sobre Embrapa? Até o pesquisador Zander Navarro ser demitido por criticar os rumos da instituição, a Embrapa era uma "Brastemp"e, de repente, só se fala mal dela. Não fosse a truculência da demissão, o Brasil ficaria ao largo do embate que já rola por lá há anos.
Cada real aplicado render R$ 11,06 para a sociedade não é uma Brastemp? Aliás, a verdadeira Brastemp sofreu uma séria crise de imagem e se recuperou com qualidade. Se a Embrapa explicar seu custo-benefício talvez também possa virar o jogo.
Alceu A. Sperança é escritor e jornalista - alceusperanca@ig.com.br