Os paradoxos do poder
J. J. Duran
O presidente eleito Jair Bolsonaro representa, com sua eleição, uma retumbante reprovação da sociedade brasileira ao sistema político que comandou o País ao longo dos últimos 40 anos. Sistema, diga-se de passagem, de quase completa desintegração moral do poder republicano.
Num cenário como esse, é comum o aparecimento de figuras políticas emblemáticas e com ideias nacionalistas que se encorpam no tabuleiro sociopolítico ao interpretar o desencanto da população.
O ex-capitão do Exército Brasileiro, com longa permanência no controvertido Parlamento como deputado federal e crítico feroz de certas minorias, converteu-se no legítimo representante da grande maioria da sociedade, que não teve no passado recente voz para expressar com força decisória seu inconformismo com o retrato de uma República prostrada.
Existem momentos na história em que as minorias verbalizam seu descontentamento sem explicar com clareza por que o encarregado de representar essa insatisfação é pinçado justamente do círculo dominante e representativo da decomposição republicana.
Depois de passar a campanha toda fazendo um discurso "politicamente incorreto" e próximo de, como autoridade máxima, ter que governar País dentro do que é "politicamente correto", o novo presidente vem com a clara determinação de mudar radicalmente o atual modelo de poder, exercido em grande medida na penumbra de gabinetes onde há muito os interesses escusos de seus nquilinos predominam sobre os interesses legítimos da sociedade.
Bolsonaro sabe que, para satisfazer as demandas de todos que clamam pela urgente reconstrução da República, terá que realizar de imediato as mudanças estruturais indispensáveis para tirar o País do colapso.
É primordial restabelecer de cara os rumos da economia, há muito combalida, e o poder do Estado em seu território, hoje mergulhado em uma calamitosa guerra não declarada entre a lei e a violência generalizada.
Só assim ele conseguirá mostrar que seus discursos "politicamente incorretos" vão se converter em uma gestão "politicamente correta" para reedificar a República e moralizar a sociedade.
Ortega y Gasset já dizia que "o paradoxo é comum dentro do sistema democrático".
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras