O Bolsonaro nacionalista
J. J. Duran
Grande parte do êxito do futuro governo brasileiro vai depender da relação que o presidente eleito Jair Bolsonaro estabelecer com o Congresso Nacional. Afinal, é de domínio público que muitos parlamentares brasileiros são fieis expoentes da política menor, comum em vários outros países e que costuma levar governantes a estabelecerem um verdadeiro balcão de negócios para aprovar as medidas necessárias para salvaguardar a saúde da República.
O ex-capitão manifestou repetidas vezes em seus discursos de campanha o firme propósito de dar fim a esse contubérnio espúrio, mas vale lembrar que a primeira vítima de toda campanha política é a verdade.
Sendo o novo presidente um antigo habitante do Congresso, já que lá está há 27 anos como deputado federal, é sabedor de que deverá balizar seu governo nas bases fundamentais que regem este novo tempo de moralização prometido por ele e aguardado ansiosamente pela grande maioria dos brasileiros.
A análise do quadro político deve ser feita olhando para os contornos que rodeiam o centro do poder. Diante disso, é imperativo compreender que Bolsonaro aparece no quadrante indo-americano como o mais alto expoente do pensamento nacionalista conduzido ao comando republicado pela vontade de quase 60 milhões de brasileiros, que fizeram uso das urnas para questionar as velhas elites dominantes da política e da economia.
Sua erupção no tabuleiro político o autoriza a rotular-se como grande símbolo renovador da política partidária submetida ao poder de caciques com a ajuda do poder econômico. E sua eleição simboliza o desprezo da sociedade aos partidos políticos tradicionais e ao modelo populista que prevaricou em seus postulados sociais para assegurar o enriquecimento ilícito de seus líderes.
A firmeza da pregação contra a corrupção, a insegurança e as desigualdades sociais foi fundamental para o triunfo democrático de Bolsonaro, e isso remete, forçosamente, a um pensamento do filósofo espanhol José Ortega y Gassett segundo o qual "não se deve prescindir do homem triunfador, porém sem esquecer as circunstâncias que o levaram ao poder".
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras