Esquerda domina disputa pelo comando da OAB do Paraná
A derrota do PT nas urnas em 28 de outubro não significou o fim da luta do partido pela conquista do poder. Mesmo tendo perdido a disputa da presidência da República para Jair Bolsonaro, o partido busca, de algum modo, uma "volta às origens" para retomar parte da relevância perdida com o escândalo do Petrolão e a prisão de seus líderes, incluindo o maior deles, Luiz Inácio Lula da Silva. A estratégia é ocupar espaços políticos diversos para executar sua agenda, das margens até o centro, conforme reportagem de Rafael Macedo na Gazeta do Povo.
Um desses movimentos está sendo orquestrado no Paraná. Na próxima quinta-feira (22), concorrem à presidência da seccional paranaense da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) duas chapas: a tradicional XI de Agosto, de situação, e a oposicionista Algo Novo na OAB, construída por um conjunto de lideranças políticas ligadas ao PT e outros partidos de esquerda.
A Algo Novo foi concebida a partir de um movimento intitulado Algo Novo na Advocacia Paranaense, encabeçado por personalidades como os advogados Luiz Carlos da Rocha, o Rochinha, ligado ao PCdoB; Luiz Fernando Delazari, ex-secretário do governo Roberto Requião (MDB); Clair da Flora Martins, ex-deputada federal pelo PT; Daniel Godoy Júnior, filiado ao PT desde os anos 1980; e Wilson Ramos Filho, o Xixo, filiado ao PT há mais de 30 anos e que recentemente disputou as eleições como suplente na candidatura de Mirian Gonçalves, também do PT, ao Senado.
Este grupo é autor de uma "carta aberta para advocacia paranaense" que arregimentou quase 400 assinaturas em apoio desde sua publicação, em setembro passado.
SITUAÇÃO
Para os situacionistas, o problema não é que os membros de uma chapa sejam ou não filiados a partidos políticos - a XI de Agosto também tem componentes filiados a partidos políticos (veja quadro) -, mas sim os objetivos pretendidos caso conquistem o poder. "Temos que diferenciar atuação técnica jurídica de atuação partidária. Presidente e diretores vinculados a partido é bem diferente de ter um conselheiro que defendeu uma tese jurídica", argumenta Cássio Telles, candidato a presidente pela XI de Agosto. Uma carta aberta publicada pelos situacionistas afirma que "a atitude de criar uma oposição não se deu por descontentamento com os rumos da administração da OAB-PR, mas pela discordância do grupo adversário com a decisão dos Conselhos Estadual e Federal de pedirem o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff".
Ferreira Filho e Telles disputam os votos de mais de 67 mil advogados inscritos na Ordem. Um deles gerenciará o orçamento anual da entidade, na casa de R$ 65 milhões, consolidado no ano passado. A temperatura do bate-chapa é tão alta que esquentou até o período pré-eleitoral, iniciando uma inédita pré-campanha que, à semelhança do pleito nacional, também se deu pelas mídias sociais e por distribuição de informações nem sempre comprovadas por WhatsApp.
O embate rendeu trocas de acusações mútuas. "Hoje o processo de transparência na OAB-PR é pífio. Não sabemos nada sobre onde e como os R$ 60 milhões anuais arrecadados dos nossos bolsos são investidos", diz um e-mail assinado pela Algo Novo na OAB. As críticas foram rebatidas pela XI Agosto por meio de carta aberta. "Quem critica o Portal da Transparência é porque nunca navegou pelo site. O portal da OAB Paraná publica não apenas as demonstrações financeiras detalhadas, mas também permite acesso aos contratos celebrados pela instituição". O texto ressaltou ainda que o candidato da oposição fez parte de gestões anteriores ocupando os cargos de conselheiro estadual e federal.
A falta de alternância na gestão da entidade também entrou na troca de farpas. "A chapa adversária, que controla a OAB-PR há mais de 40 anos, tem um núcleo dominante composto por advogados de grandes escritórios. Mas essa não é a realidade da advocacia no Paraná. Por isso, há um grande número de advogados que não se sentem representados pela OAB e pela forma como ela tem sido gerida", diz Ferreira Filho.
O candidato da XI de Agosto explicou que apesar do grupo gerir a entidade por tanto tempo, existe o entendimento interno que evita a reeleição, apesar do mecanismo de estar previsto no regimento da entidade. "Inclusive, temos uma renovação no conselho de 70%, ou seja, são 80 pessoas", diz Telles.
PERFIL DOS CANDIDATOS
Manoel Caetano Ferreira Filho (Algo Novo na OAB) - Formou-se e concluiu mestrado em Direito pela UFPR (Universidade Federal do Paraná). É advogado militante há 38 anos e professor de Processo Civil da UFPR há 37 anos. Foi procurador do Estado por 36 anos e juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná em 2004 e 2005. Foi membro do Conselho da Estadual da OAB-PR (2013-2015) e do Conselho Federal da OAB (2015-2017).
Cássio Telles (XI de Agosto) - Presidente da subseção da OAB de Pato Branco, vice-presidente da OAB-PR, conselheiro federal, e ex-presidente da Comissão Nacional de Prerrogativas do Conselho Federal. É advogado militante desde 1987, formado pela Faculdade de Direito de Curitiba. Um ano antes, graduou-se em Economia pela UFPR.