Brasil teria formado mais de 52 mil médicos com dinheiro dado a Cuba
O governo de Cuba informou nesta quarta-feira (14) que decidiu sair do Mais Médicos, atribuindo tal decisão a "referências diretas, depreciativas e ameaçadoras" feitas pelo presidente eleito Jair Bolsonaro à presença dos profissionais cubanos no Brasil, que teve início em 2013, quando o governo da então presidente Dilma Rousseff criou o programa com o argumento de que era preciso atender regiões carentes sem cobertura médica.
"O Ministério da Saúde Pública de Cuba tomou a decisão de não continuar participando do Programa Mais Médicos e assim comunicou a diretora da Organização Pan-Americana de Saúde [Opas] e aos líderes políticos brasileiros que fundaram e defenderam a iniciativa", diz a nota do governo, sem marcar uma data para tanto.
Tal decisão representa um estremecimento nas relações entre os dois países e uma perda momentânea no atendimento à população brasileira na área da saúde básica, mas acima de tudo uma derrota para o próprio regime cubano, que vai ter de buscar outras fontes de autofinanciamento.
Uma planilha do Ministério da Saúde tornada pública ainda em 2017 revelou que o governo brasileiro havia gastado R$ 5,7 bilhões nos primeiros quatro anos do Programa Mais Médicos. Esse dinheiro foi integralmente pago à Opas (Organização Panamericana de Saúde), que embolsou R$ 1,3 bilhão para compra de passagens aéreas, consultorias, taxa de administração e outras despesas e repassou R$ 3,2 bilhões ao regime de Fidel Castro e apenas R$ 1,2 bilhões aos médicos que vieram trabalhar no Brasil, muitos dos quais hoje reclamam seus direitos na Justiça.
Ao analisar o caso, o TCU (Tribunal de Contas da União) chegou à conclusão de que o Brasil havia feito um péssimo negócio, pois esse dinheiro todo era suficiente para formar 52.413 novos médicos brasileiros para serviço permanente, para construir 14.068 UBSs (Unidades Básicas de Saúde) - o equivalente a quatro por cidade, ou ainda uma UBS para cada município e usar o restante do dinheiro para formar cinco novos médicos para cada uma dessas unidades.
ENFRAQUECIMENTO
O rompimento agora anunciado, no entanto, já vinha se desenhando há um bom tempo. Em 2017, na gestão do paranaense Ricardo Barros no Ministério da Saúde, diante da pressão vinda das autoridades de Havana o governo brasileiro cedeu e reajustou em 9% o valor da bolsa - que passou de R$ 10.570 para R$ 11.620 por médico a partir de janeiro de 2018 - mas, ao mesmo tempo, anunciou uma redução no número desses profissionais de 11,4 mil para 7,4 mil a fim de abrir espaço aos brasileiros recém-formados. Desde então o governo cubano tinha a noção clara de que essa mamata estava com os dias contados.
BOLSONARO EXPLICA
"Condicionamos a continuidade do Programa Mais Médicos à aplicação de teste de capacidade, salário integral aos profissionais cubanos, hoje maior parte destinados à ditadura, e à liberdade para trazerem suas famílias. Infelizmente, Cuba não aceitou", postou o presidente eleito Jair Bolsonaro em seu Twitter nesta quarta-feira. (Foto: Arquivo)