Dallagnol diz que ida de Moro para ministério irá fortalecer a Lava Jato
O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa Lava Jato no Ministério Público Federal no Paraná, disse em texto publicado na tarde desta quinta-feira (1º), que a participação do juiz federal Sergio Moro, responsável pelas ações penais da Lava Jato na primeira instância em Curitiba, no Ministério da Justiça do Governo Jair Bolsonaro irá consolidar avanços no combate à corrupção.
Dallagnol destacou que Moro aparece em uma foto com um livro que contém medidas contra corrupção defendidas por ele. "A foto é emblemática", iniciou, se referindo a uma imagem dentro do avião registrada pela jornalista Estelita Hazz Carazai, da Folha de S. Paulo. O procurador não comentou o fato de o juiz ter sido responsável pela condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aparecia como líder nas pesquisas presidenciais até mesmo depois de sua prisão, em abril deste ano.
Dallagnol encerrou o texto afirmando que Moro nunca teve aspiração política e que, caso quisesse, poderia ter se tornado presidente ou senador nas últimas eleições com grande probabilidade de êxito. No texto, ele afirmou ainda que a Lava Jato seguirá com outros magistrados e que ainda há bastante por fazer e será feito.
A NOTA
Leia o texto de Deltan na íntegra: "A foto é emblemática: o pacote das Novas Medidas Contra a Corrupção estava em suas mãos na viagem ao encontro do presidente eleito. O juiz Sergio Moro vai ao Ministério da Justiça por um bem maior: consolidar os avanços da Lava Jato e avançar contra o crime organizado, problemas extremamente preocupantes no nosso país, assim como defender o fortalecimento da democracia, que é pressuposto da luta contra a corrupção.
Minha avaliação pessoal - não estou falando neste post pelas equipes que trabalham na Lava Jato, que podem ter diferentes visões desse assunto - é de que a decisão é bastante positiva para a causa anticorrupção e para o país.
Em inúmeras entrevistas, sempre ressaltei que o ambiente de leis favoráveis à corrupção ainda é o mesmo de antes da Lava Jato: prescrição, nulidades, lentidão e penas lenientes favorecem a impunidade. A mensagem do sistema de justiça criminal é de que a corrupção compensa e inúmeros casos do passado provam isso. Nada das leis que favorecem a impunidade mudou até hoje. O que houve foi um caso que fugiu da curva da impunidade, a Lava Jato. Além disso, há muito espaço para avançar contra a corrupção em outras frentes: recuperação de valores, transparência, melhoras no sistema político e eleitoral, incentivo ao compliance, proteção do whistleblower, fortalecimento do controle interno e externo e assim por diante. Tudo isso precisa ser feito e o Ministro da Justiça tem uma posição privilegiada para articular essas mudanças.
Além disso, há muito tempo falo que, hoje, é mais importante para o país mudar o ambiente que favorece a corrupção do que futuros resultados da Lava Jato. Há muitas propostas substanciais, como as 10 Medidas e as Novas Medidas, que poderão ser apreciadas, aperfeiçoadas e aprovadas. É preciso criar um ambiente fértil para que a corrupção não aconteça e para que operações contra a corrupção possam crescer e frutificar em cada cidade onde há esse problema.
Como Ministro da Justiça, o juiz Sergio Moro poderá impactar ainda órgãos muito importantes para o controle da corrupção, como a Polícia Federal, a CGU e o COAF, ampliando sua influência positiva dos casos em Curitiba para todo o país.
Neste momento, precisamos fazer uma análise crítica dos ataques que estão surgindo contra a reputação do juiz e da Lava Jato, como aqueles que acusam o juiz de ter, desde sempre, aspiração política. Isso é ridículo. Se o juiz Sergio Moro tivesse aspiração política, ele poderia ter se tornado presidente ou senador nas últimas eleições com alta probabilidade de êxito. Mentiras como essa serão repetidas, como outras já usadas no passado, mas não vão abalar a Lava Jato, em que atuam não só um juiz, mas 14 da primeira à última instância. A imparcialidade dos atos e decisões são garantidos pelo próprio sistema recursal.
O que vejo é sim uma pessoa que já demonstrou, com árduo trabalho, elevada qualidade técnica e muito sacrifício pessoal ao longo de 4 anos, que se somaram a uma trajetória pretérita respeitada, o seu comprometimento com o interesse público, com o serviço à sociedade e com o país. Vejo ainda o aproveitamento de uma oportunidade pelo juiz para dar o seu melhor a fim de construir uma sociedade com mais justiça social, mais democracia e mais segurança, assim como menos corrupção, menos impunidade e menos crime organizado.
Aqui em Curitiba, a Lava Jato seguirá com outros magistrados. Há ainda bastante por fazer e será feito. Perde-se o grande talento de um juiz, mas a maior parte da equipe seguirá firme lutando contra a corrupção, como profissionais, na operação, e como cidadãos".