Segurança será principal pauta dos ruralistas nas eleições 2018
O avanço da violência no campo desde a última eleição presidencial, em 2014, levou representantes do agronegócio a elegerem o tema da segurança pública como um dos principais entraves para o desenvolvimento do setor e também um dos maiores desafios para os pré-candidatos que buscam apoio e voto dos produtores agrícolas.
Na pauta de reivindicações estão a expansão de programas de patrulha rural, a criação de delegacias especializadas e a abertura de um debate sobre a flexibilização do Estatuto do Desarmamento, conforme reportagem deste domingo no Estadão, assinada por Adriana Ferraz e Paulo Beraldo.
Com a tecnologia empregada hoje no campo, a preocupação dos agricultores e pecuaristas deixou de ser o risco de ter suas propriedades invadidas por movimentos sem-terra para a possibilidade de ver seus investimentos em maquinário e insumos, por exemplo, serem perdidos em roubos praticados por quadrilhas especializadas.
Dados oficiais do governo de Mato Grosso, maior produtor de grãos do País, mostram uma alta de 60% nos registros de roubos e furtos no campo entre 2014 e 2017. No mesmo período, houve incremento de 20% dos índices em Goiás, de 7,5% no Rio Grande do Sul e de 4% em Minas Gerais - onde a média dos últimos dois anos é de 139 casos por dia. O setor representa 21,5% do PIB, sendo considerado a atividade econômica mais dinâmica hoje do País - ano passado obteve safra recorde, com 230 milhões de toneladas de grãos, uma alta de 13%.
BANCO DE DADOS
Para pressionar os presidenciáveis a apresentarem propostas que solucionem ou, ao menos, amenizem o problema, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) passou a produzir uma estatística própria. Criado em 2016, o Observatório da Criminalidade no Campo serviu de base para um estudo com propostas que será apresentado quarta-feira ao ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, e ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, um dos pré-candidatos à Presidência. Os demais também receberão o material até as eleições.
"Nossa primeira intenção foi montar um banco de dados que nos ajudasse a identificar como e onde ocorrem os crimes, já que a maioria dos Estados não têm essas informações, por incrível que pareça. A partir daí, vamos ter condições de avaliar que tipo de política pública funcionaria e como cobrar por elas", afirmou ao Estado o secretário executivo do Instituto CNA, André Sanches.
Os relatos colhidos com produtores rurais nos últimos 18 meses mostram, por exemplo, que 72% dos furtos e roubos são "encomendados". "Os bandidos entram nas fazendas sabendo muito bem o que querem levar, o que mostra organização e planejamento. Não são crimes de ocasião, como chamamos. E isso ocorre porque existe um mercado paralelo de insumos agrícolas que custam caro", disse Sanches.
PATRULHAS
Presidente da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), Márcio de Freitas afirma que a falta de segurança levou algumas organizações a adotarem a entrega limitada dos insumos como prevenção. "Há esquemas especiais de distribuição, nos quais os produtores só podem pegar os itens na medida em que forem utilizar". Freitas pede dos presidenciáveis projetos de patrulhas rurais em parceria com a iniciativa privada.
Foi o que um grupo de fazendeiros de Goiás fez. Para se protegerem, produtores de 50 dos 246 municípios do Estado participam de programa de patrulha rural da Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás), uma parceria de sindicatos com o governo. Segundo o assessor jurídico da entidade, Augusto César de Andrade, a implementação de tecnologias no projeto, como o uso de GPS e de drones, diminuiu o tempo de resposta das ocorrências, agilizando a ação da polícia. "Com a geolocalização das propriedades, é possível fazer rondas em locais de difícil acesso", disse ele.
ARMAMENTO
Segundo o presidente da Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão), Arlindo Moura, o avanço da violência nas zonas rurais justifica o debate sobre armar a população. "Qual a solução? Para mim, ela só virá no momento em que as fazendas possam estar armadas", sustenta. (Foto: GPS da Notícia)