O Mito e a Onda
Gilmar Viriato F. Santos
Todos que sabem pouco da mitologia grega certamente não ouviram falar em Kratos, o guerreiro que serviu os deuses do olimpo para destruir Ares, o deus da guerra. Kratos vivia atormentado pelos pesadelos do passado e o que mais queria era a sua liberdade, e para isso, aceitou o desafio de destruir Ares, que propagava o mal, para quitar suas dívidas e libertar sua alma e a de seu povo.
A história de Kratos, um desconhecido na mitologia, parece se encaixar bem quando o comparamos com o fenômeno Bolsonaro, que emerge das urnas como o candidato mais votado da história. Não por acaso, Bolsonaro foi desde o início ignorado e tratado com indiferença pela grande imprensa e pela classe política, que se achava imune à opinião pública, a lava-jato e ao desejo de mudança e renovação que tomava conta do consciente coletivo.
Não por acaso é chamado de Mito e ovacionado onde quer que vá ou onde apareça nas redes sociais, porque ele, praticamente sozinho e ainda fragilizado por uma facada conseguiu a façanha homérica de abalar o sistema e, assim como Kratos, atrair para si todo o desejo de "vingança" contra os malfeitores da cleptocracia petista e de seus agregados.
Bolsonaro pode não ter o perfil de um estadista, de fala bonita e articulada que esperávamos e do politicamente correto que a imprensa sonhava. Mas ele conseguiu personificar o sentimento de repulsa e ao mesmo tempo de esperança, de um povo cansado com tanta bandalheira e descaso com um estado que fracassou na sua missão de proteger e servir.
Disso emergiu uma onda, cuja "marolinha" surgiu em 2013 com as manifestações e agora inundou o país como um tsunami verde e amarelo que promete desmontar não só o mecanismo corrupto que tomou conta da dita governabilidade, mas também ideológico, de uma sociedade enganada por práticas e conceitos socialistas que deixaram a violência prosperar em detrimento do poder de coerção do estado e da justiça.
Bolsonaro não é uma unanimidade, e isso é bom, pois terá que desfazer rótulos e preconceitos que minorias puseram em sua testa e os exportaram para a mídia internacional. Espera-se que essa rejeição não seja maior que a honestidade que demonstra e sua sinceridade no propósito de transformar o sistema político e fortalecer as instituições, dado que ele traz em sua missão épica, que diz ser divina, além da perspectiva de dias melhores com o banimento nas urnas de figuras nefastas da velha política, o resgate do país como nação respeitada e não do "anão diplomático" que a esquerda o transformou; a manutenção de valores que parecem ser triviais, como a preservação da família, da lei e da ordem, da propriedade e da legítima defesa e que alguns, não sei por qual razão, dizem ser extremista.
O mercado e o setor produtivo já se convenceram, mas espera que o mito se transforme em verdade e faça as reformas estruturais e fiscais que o país precisa para dar início a um ciclo de crescimento e assim retome o tão prometido futuro que ficou pra trás. Portanto, se os gregos não consideram Kratos deus na sua mitologia, não há porque acharmos que temos um salvador da pátria. O que temos é somente um guerreiro disposto a combater o mal que tantos nos causaram em duas décadas perdidas. (Foto: O Globo)
Gilmar Viriato F. Santos é economista - gviriato@uol.com.br