Réquiem político
J. J. Duran
Na eleição do último domingo o povo brasileiro deu ao mundo uma estupenda afirmação do seu espírito democrático. Essa vontade inequívoca revelada em todos os cantos da República mostra o desejo de recuperar a ética, a autenticidade e a verdade na personalidade dos homens públicos.
Foram eleitos muitos novos parlamentares cujo histórico representa um sopro de esperança para os homens e mulheres imbuídos das mais fortes preocupações com os destinos do Brasil, e que chegarão ao Parlamento simbolizando a esperança de recuperação da configuração moral e institucional perdida pelo País no período mais infame da história política nacional.
Há várias legislaturas temos um Congresso cujo sometimento aos interesses do Executivo o levou a ser visto como um poder subalterno e simples ratificador de espúrias negociatas reformistas impostas pelo poder governante desde as sombras do sodalício.
Muitas das votações ficaram registradas nas páginas tristes da história política da República como testemunho estarrecedor das mutilações impostas à verdade e à razão pelo poder corruptor do dinheiro.
Poucas vozes se levantaram no Parlamento para protestar e denunciar um estado político-social empobrecido, cuja corrosão alcançou muitos parlamentares e governantes de mandatos medíocres.
Nesse tempo o sagrado sodalício republicano brasileiro sofreu nefasto retrocesso democrático. O triunfo aparente e desavergonhado da desonestidade e da mediocridade colocadas a serviço de interesses próprios mostrou quão nefasto pode resultar o mandato popular quando utilizado em proveito próprio.
Esse triste período permitiu o exercício em escala incomensurável do poder corruptor para comprar consciências e mostrar fiel obediência a um Poder Executivo carcomido pela ilegalidade.
Condutas lastimáveis marcaram a ferro, e para sempre, a imagem de muitos homens públicos que se abraçaram estupidamente às benesses ofertadas com a complacência de importantes figuras do Poder Judiciário.
As urnas não fizeram justiça àquela parcela de não reeleitos que usou o sagrado mandato para defender os interesses legítimos da coletividade, mas levaram de roldão numeroso grupo dos que nada fizeram além de legislar em causa própria.
Em comum, todos que foram reprovados nas urnas terão agora a oportunidade de fazer um exame de consciência e saborear um dito deixado pelo saudoso Tancredo Neves, para quem "na política, soberba e opressão só fazem germinar as sementes do ódio e do ressentimento".
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras