Internet sem qualidade coloca a agricultura digital em xeque
A evolução tecnológica tem feito florescer entusiasmo no meio rural com a chegada da chamada agricultura digital. Palavras como Big Data, agricultura de precisão, internet das coisas, sites, aplicativos, conectividade e uma enxurradas de outros conceitos passaram a fazer parte da rotina de agricultores e pecuaristas ao redor do mundo, conforme reportagem especial do Boletim Informativo do Sistema Faep.
A situação, no entanto, acende uma discussão que é uma máxima no Brasil e em diversos outros países que têm na agricultura um motor do desenvolvimento. Com a produção de alimentos em locais distantes dos centros urbanos, como fazer a web alcançar as lavouras e, ainda, com velocidade compatível às novas tecnologias?
Uma prova de como a chegada da agricultura digital muda a vida no campo vem da propriedade da família de Eliezer Cherpinski, em Cafelândia, na Oeste paranaense. O produtor rural tem um aviário que aloja 16,5 mil frangos por lote e também dois tanques de peixes, com capacidade para 53 mil animais. Cada uma dessas estruturas conta com tecnologia "embarcada" que converteu a forma do produtor enxergar sua atividade. "Tenho vários dispositivos que facilitam o manejo da granja e dos tanques, como controles via WiFi, timers digitais, sensores de temperatura e umidade. Meu sonho é colocar um controlador de oxigênio na água para os peixes. Inclusive já estou com alguns projetos para viabilizar isso", conta o produtor.
"Minha internet fez oito anos agora em agosto. Lembro exatamente porque foi uma semana depois de ter nascido o meu filho. Ela funciona via rádio, com uma antena que capta o sinal da cidade por meio de uma torre maior instalada em uma comunidade a seis quilômetros em linha reta da minha residência. O sinal sai da cidade, vem até essa torre e depois é captado por uma antena aqui na minha casa. Comecei com 512 KB de velocidade, depois passei para 1 mega, 2 mega e hoje tenho uma velocidade de 8 mega disponível", compartilhaou Cherpinski.
Mas ele pode se considerar um privilegiado entre os agricultores do Paraná e do Brasil, pois o acesso à internet é algo ainda indisponível para muitos deles. Levantamento recente revela que o acesso à internet no Sul do Brasil já chegou a 74%e nas áreas urbanas, mas ainda é de apenas 26% nas áreas rurais. E se até mesmo nas cidades essa importante ferramenta apresenta deficiências, imagina no campo?
RETRATO PREOCUPANTE
O principal setor da economia brasileira, o agronegócio, responsável por 23,5% de contribuição para o PIB em 2017, está distante de contar com uma conexão de internet banda larga de qualidade. O sinal da internet no campo é regular para 40%, ruim para 38,46%, inexistente para 9,23%, boa para 7,29% e ótima para apenas 4,62% dos agricultores consultados pela Art Presse, uma agência paulista de relações públicas, por encomenda do Canal Rural.
Para 84,42% dos consultados, a conexão falha ou inexistente atrapalha diretamente o agronegócio, na medida que não conseguem, comunicar-se adequadamente com seus clientes e fornecedores, obter informações de meteorologia, chamar segurança, monitorar plantações e gado, ofertar seus produtos por site ou apps e utilizar máquinas de débito/crédito.
O principal tipo de conexão no campo vem de provedores de acesso de internet via rádio (28,57%) seguido da rede 3G oferecida pelas operadoras móveis (22,08%), banda larga via satélite (16,88%), banda larga fixa (6,49%), rede móvel 4G (3,9%), GPRS (2,6%); 15,58% dos respondentes disseram não possuir nenhum tipo de conexão.
Os principais provedores apontados pelos gestores do agronegócio são Vivo (32,3%), HughesNet (16,9%), TIM e Claro (7,7% cada) e Oi (6,2%). Os outros 29,2% utilizam provedores regionais. (Foto: Faep)