Maduro tupiniquim? Eleito, Haddad vai propor a revisão da Constituição
Logo após ser reconduzido à presidência no último mês de abril em uma eleição marcada por acusações de manipulação e boicote à oposição, Nicolás Maduro decretou a instalação de uma nova Assembleia Nacional Constituinte sob o argumento de que a Venezuela precisa passar por uma completa reorganização interna.
E ao discorrer sobre o assunto, não usou de meias palavras. "O que a Constituinte pode fazer? Tudo o que quiser. É o grande poder [...] Pode emitir uma lei constitucional, acima da lei, estabelecendo regras de justiça firmes e de cumprimento obrigatório por todas as instituições, pela Procuradoria, pelos tribunais, etc, etc", declarou ele em seu programa semanal na emissora estatal VTV.
A nova Constituição venezuelana, que substituirá a vigente desde 1999, será redigida por 545 constituintes - 364 eleitos por territórios e 181 por setores sociais -, mas sem a presença da oposição, que se negou a participar do processo sob alegação de que a reeleição de Maduro foi uma "fraude" para instalar uma ditadura e que a futura Carta se destina a dar amplos poderes ao atual presidente.
Pouco se falou sobre isso na atual campanha eleitoral do Brasil, mas o País pode estar caminhando para um processo muito parecido. O candidato do PT Fernando Haddad confirmou ontem (28), em Goiânia, que se vencer a disputa pela Presidência irá trabalhar para criar as condições necessárias a se redigir uma nova Constituição, como incluído em seu plano de governo, mas sem que tenha sido dada a necessária publicidade.
"Isso já foi mediado. Quando o PCdoB passou a integrar a chapa, houve uma alteração no texto para criar as condições da convocação de uma Assembleia exclusiva", afirmou, ressaltando que o objetivo é instalar uma Constituinte "livre, democrática, soberana e unicameral, eleita para este fim nos moldes da reforma política que preconizamos".
RECADO DE DIRCEU
A declaração de Fernando Haddad veio poucas horas depois da publicação de uma polêmica entrevista de José Dirceu ao jornal espanhol El País. "É uma questão de tempo para a gente tomar o poder", declarou o ex-ministro, preso três vezes por participar dos dois maiores escândalos de corrupção da história do Brasil (Mensalão e Petrolão) e libertado da cadeia pelo STF (Supremo Tribunal Federal) mesmo estando condenado pelo juiz Sérgio Moro a 23 anos e 3 meses de prisão.
Ao fugir da pergunta se o PT teria participação no "momento de ódio" que o Brasil atravessa e quase culminou com a morte do também presidenciável Jair Bolsonaro, Dirceu defendeu Lula, também condenado por corrupção, e atribuiu o cenário atual ao "golpe" (impeachment de Dilma) e à Lava Jato. E completou: "De certa maneira, há um sentimento de que houve uma injustiça com Lula, que o Lula é perseguido. E quando se diz que alguém é perseguido, você não entra mais no mérito de por que a pessoa está respondendo por um suposto crime, você parte do princípio que ele é perseguido". (Fotos: Renova Mídia)