Políticos politicamente incorretos
J. J. Duran
O mundo globalizado desenhado por Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, não existe mais. Ficou apenas no campo da intenção. Líderes politicamente incorretos como Donald Trump e Mauricio Macri, para ficar em apenas dois exemplos, são a antecipação da personalidade política de Jair Bolsonaro, cuja forma de ser gerou uma repulsa presente diariamente nas manchetes dos principais meios de comunicação e também nos comentários daqueles que se autointitulam intelectuais.
Nesse contexto, é possível afirmar que esses personagens públicos diferem do perfil traçado por Obama como atributo ideal para que um político seja considerado politicamente correto.
Porém, o perfil desejado no campo político não é o mesmo desejado pelos porta-vozes do fator econômico-financeiro. Trump deu fim ao tempo de tributos altos e juros baixos que marcou seus antecessores e conduziu a economia norte-americana a uma era de crescimento como há muito não se via.
Mesmo fora da campanha por conta do atentado sofrido em Minas Gerais, Bolsonaro segue perfilando como forte candidato à Presidência sustentando teorias econômicas assemelhadas às de Trump e delineadas pelo banqueiro-economista Paulo Guedes, reconhecidamente o principal cérebro por trás de sua candidatura. Suas teorias foram rapidamente aprovadas pelos setores corporativos e muitas das centrais multinacionais.
Dois eixos compõem a "coluna vertebral" da política econômica de Bolsonaro: a privatização do máximo possível de empresas públicas e a redução drástica dos impostos que penalizam o País de uma forma geral. Nesse campo, Bolsonaro segue fielmente a tradição brasileira de não ver com bons olhos o liberalismo ortodoxo.
Sua direita antiliberal e direitista-nacionalista não coincide exatamente com seu discurso político, porém tem seu embasamento. Faz lembrar o livro "A política nos tempos de indignação" do filósofo espanhol Daniel Innerarity, segundo o qual tempo da insignificação das teorias da socialdemocracia no mundo está próximo do fim.
As pesquisas apontam que diante da perda da qualidade de vida, causada sobretudo pelo desemprego e pelo avanço sem limites da violência urbana, a classe média está fazendo uma autocensura por ter sido um dos vértices que fizeram muitos candidatos neoliberais triunfarem em diferentes países.
Neste momento em que o dia da decisão se aproxima, percebe-se que o povo brasileiro sabe o que não quer, porém ainda não tem a crença necessária de quem realmente pode ser o executor das promessas de renovação feitas no curso da campanha, tampouco se quer o fim do populismo, a continuidade do reformismo imoral ou alto realmente diferente. É um quadro político igualmente politicamente incorreto. (Ilustração: TecMundo)
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras