Corrupção devorou dinheiro da duplicação Cascavel-Matelândia
Antiga e justa aspiração não só da população do Oeste paranaense, mas de todos os usuários do trecho da BR-277 que corta a região indo ou vindo de Foz do Iguaçu, os cerca de 70 km que separam Cascavel de Matelândia só não foram duplicados ainda porque o dinheiro da tarifa do pedágio que deveria bancar o projeto foi devorado pela corrupção. E o mesmo cenário se repete em relação a vários outros trechos importantes do Anel de Integração.
A conclusão é do promotor público federal Diogo Castro de Mattos, um dos escalados para esclarecer à imprensa os detalhes da 55ª etapa da Operação Lava Jato, batizada de Integração II, deflagrada pela Polícia Federal nesta quarta-feira (26) e manhã e que culminou com a prisão de mais de uma dezena de pessoas supostamente envolvidas em esquemas de corrupção, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, estelionato e peculato.
Segundo ele, o problema é tão antigo quanto o processo de implantação do pedágio no Estado e se verificou em duas fases de pagamento de vantagens indevidas, uma via ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias), que começou em meados de 1999 e durou até 2011, período dos governos Jaime Lerner e Roberto Requião, e outra envolvendo o DER (Departamento de Estradas de Rodagem) e da Agepar (Agência Reguladora do Paraná), já no governo Beto Richa. Também teriam se beneficiado integrantes da CPI do Pedágio instaurada pela Assembleia Legislativa do Paraná, mas nomes não foram citados.
"Esse esquema envolvia não só as concessionárias de pedágio, mas todos os prestadores de serviço do DER. Segundo as evidências, a todos os prestadores de serviço do DER era solicitada uma vantagem indevida de 2% dos contratos para entrega de valores em espécie a um operador do DER, e essa pessoa distribuía esse dinheiro na área interna do DER e também para Luiz Abi (primo de Richa), que seria uma espécie de caixa geral de arrecadações indevidas do governo do Paraná", afirmou o promotor.
No primeiro esquema, segundo o Ministério Público Federal, cerca de R$ 30 milhões foram pagos em propina pela ABCR, fruto de uma parcela mensal de R$ 240 mil. Já no segundo esquema o valor saltou para cerca de R$ 500 mil mensais.
PRISÕES
Luiz Abi Antoun, que já havia sido privado da liberdade por quatro dias no início deste mês dentro da Operação Rádio Patrulha, só não voltou a ser preso hoje porque a Polícia Federal não o encontrou. Ele viajou para o exterior (Alemanha e Líbano) com autorização judicial e só retornará no dia 6 de outubro, quando deverá se entregar. O ex-secretário estadual Pepe Richa, irmão do ex-governador Beto Richa, não teve a mesma sorte. Ele é um dos 15 acusados contra os quais foram cumpridos mandatos de prisão nesta quarta-feira.
A PF também cumpriu mandatos contra Aldair Petry, ex-diretor-geral da Secretaria de Infraestrutura e Logística; Luiz Claudio Luz, chefe de gabinete de Pepe Richa; Elias Abdo Filho, supostamente responsável pela lavagem do dinheiro; Ivano Abado, intermediário do dinheiro em espécie junto às concessionárias; Beatriz Luciana Assini, secretária de João Chiminazzo Neto na ABCR; Evandro Couto Viana, diretor superintendente da Ecovia e Ecocataratas; José Camilo Teixeira, diretor presidente da Viapar; José Alberto Moraes Rego de Souza Moita, presidente da Rodonorte; José Julião Terbai Junior, diretor presidente da Caminhos do Paraná; Ruy Sergio Giublin, articulador e negociador de propinas pagas pela Caminhos do Paraná; Antônio Carlos Cabral de Queiroz, funcionário do DER e Agepar; Maurício Eduardo Sá de Ferrante, diretor jurídico da Agepar; Cláudio José Machado Soares, diretor da Rodonorte; e Mario Cezar Xavier Silva, funcionário da Ecovia. (Foto: Arquivo)