Fosso democrático
J. J. Duran
Existe um profundo fosso divisório do pensamento político na sociedade brasileira. A campanha calça curta e o vazio de conteúdo do pensamento central dos candidatos, notadamente os que postulam a Presidência da República, demonstram que vivemos, como sociedade, um momento confuso e extremamente perigoso.
Percebe-se uma profunda divisão, que coloca de um lado os pensadores saudosos do tempo dos governos populistas e seu rol de políticas distributivas e de outro o pensamento liberal, ainda sob o efeito das sequelas do saque aos cofres da República perpetrado pelos corruptores dos anos de ilícitos e impunidade da "República da construção".
Usufruindo dos benefícios da liberdade propiciada pela democracia, muitos equivocados de pensamento encontram na violência ou na condenação política as respostas às suas verdades. Verdades múltiplas, diga-se de passagem, pois na vida política cada verdade é fruto de um pensamento muito particular.
A violência covarde ensanguentou não só um dos contendores, mas toda a República democrática, e cobriu de sombra um cenário crepuscular da história política brasileira. E tapar esse fosso é tarefa de todos, mas que só será cumprida desde que unifiquemos os objetivos pelo bem comum.
Depois do maior escândalo de corrupção política e moral da história do País, e da pior e mais selvagem recessão econômica de que se tem notícia, o desejo forte de mudança está uma vez mais presente no pensamento da maioria do eleitorado, o que é uma luz no fim do túnel.
Mas o eleitorado deve prestar atenção à ação da velha guarda política - fatia dominante das siglas partidárias que agregam nômades que trocam de partido como trocam de roupa em busca de maior proteção -, que para não perder o "osso", aposta todas as fichas em candidaturas que representam uma séria ameaça ao proclamado desejo de mudança.
A consequência disso é a ausência, nesta campanha, de um projeto capaz de refundar a República e sua sociedade. Diante desse cenário, devemos estar preparados para o melhor, mas também para o pior.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras