Sigilo marca investigação sobre fortuna apreendida em Viracopos
Uma ação conjunta da Polícia Federal e da Receita Federal, no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), apreendeu malas de dinheiro e relógios da comitiva do vice-presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Mang. A delegação carregava cerca de US$ 1,5 milhão e R$ 55 mil, em espécie, e relógios de luxo avaliados em US$ 15 milhões.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores informou que "se manteve em coordenação permanente com a Polícia Federal e a Receita Federal no acompanhamento do caso, inclusive quanto à adoção de medidas cabíveis".
A investigação do caso está sob sigilo diplomático, conforme as leis internacionais. O delegado que chefiou a operação, no entanto, não conteve sua indignação. "É um absurdo isso, chegar com tanto dinheiro e não declarar nada", disse Paulo Vibrio, ressaltando que "é difícil fazer suposições da origem do dinheiro ou destinação, mas vamos apurar o caso".
Além do vice-presidente, outras dez pessoas estavam a bordo. A delegação não veio ao Brasil em missão oficial e ficou detida até a manhã deste domingo. Em visitas oficiais, a bagagem diplomática, com documentos do país de origem, não passam pela fiscalização. A comitiva da Guiné Equatorial, no entanto, tinha malas sem conteúdo diplomático.
O vice-presidente, filho mais velho do ditador Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, estaria no Brasil para fazer um tratamento de saúde. O avião que trouxe a delegação é do governo da Guiné Equatorial e chegou a Viracopos na noite de sexta-feira (14).
Há pouco mais de três anos, o vice-presidente acompanhou, no Rio de Janeiro, o desfile da escola de samba Beija-Flor, que homenageou a Guiné Equatorial. Conhecido como Teodorín, ele é apontado como sucessor natural do pai, que tem 76 anos e está no poder há mais de três décadas. Foi ministro da Agricultura e de Florestas antes de assumir o posto em que está.
DESIGUALDADE
Na África Ocidental, a Guiné Equatorial é um dos países com maior desigualdade social e econômica do mundo. Também está entre as nações que mais desrespeitam os direitos humanos. A história do país é marcada por ditaduras e violência. O atual presidente depôs o anterior, que foi condenado à morte.
Oficialmente, o país tem três idiomas (português, espanhol e francês), assim como dialetos. Guiné Equatorial faz parte da Comunidade de Língua Portuguesa ao lado de Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique, Portugal, Tomé e Príncipe, além do Timor-Leste.
É o terceiro maior produtor de petróleo do mundo. A fortuna do presidente Nguema Mbasogo está entre as dez maiores do mundo, apesar da pobreza da Guiné Equatorial. No país, não há acesso a água potável e muitas crianças não sobrevivem além da primeira infância.
Organizações não-governamentais denunciam ainda uma elevada incidência de tráfico de pessoas, inclusive de crianças, para fins sexuais e de trabalho escravo. (Foto: PF)