Barracas no Calçadão
Alceu A. Sperança
Em sua gestão, o presidente da OAB/Cascavel, Marcos Boschirolli, propôs que a Ordem, o Ministério Público e o Poder Judiciário colocassem barraquinhas no espaço público para trocar em miúdos para a arraia-miúda o que cada um é e o que pode fazer em favor de nossos interesses. Ótimo. Mas se todos continuarem a falar no mesmo jargão habitualmente empregado no Fórum - o Juridiquês -, é bem provável que o populacho acredite se tratar de barracas de marcianos ou venusianos falando coisas incompreensíveis a disputar espaço com os camelôs e os flanelinhas.
Nada contra e todo apoio. A ideia é boa e dá certo: o pessoal da Saúde já faz isso e tem ajudado muita gente a perceber que abalar a própria saúde atrapalha muito o futuro do país.
Colocar barraquinhas para explicar as coisas ao povo é uma ideia genial. Poderia haver uma, por exemplo, na qual o secretário das Finanças explicaria que a dívida pública não é só um montante X, tal qual um bloco de granito, mas é como se fosse um automóvel, composto das mais variadas peças. E quando se comparar a dívida que foi recebida com a que está sendo deixada para o futuro é preciso ver o estado do automóvel, ou seja, em que condições cada peça está.
Poderíamos também ter uma barraquinha para explicar que segurança pública não é um caso de polícia, como tantos ingênuos acreditam. Em todos os lugares, sem exceção, onde se privilegiou a repressão e se criou o "Estado policial" (o Brasil já viveu isso muitas vezes, antes e depois de Tiradentes) a violência só cresceu.
Onde se privilegiou a educação houve, eventualmente, declínio da criminalidade. Eduque e cure um punhado de pinguços e drogados, eduque e oriente as mães e as meninas e terá uma consequente melhoria na segurança. De nada resolverá, depois, espancar e prender os filhos abandonados e endoidecidos dessa gente. Make love, not war!
Poderia também haver uma barraquinha dos direitos, que os opressores sempre querem destruir. Direito a alimentos saudáveis, por exemplo. Boca de consumidor não é penico para alguém lhe despejar qualquer coisa sem nem mesmo saber quais serão suas consequências futuras para a saúde humana e para a natureza. Urge vender e comer só o que realmente presta.
Que o leitor aproveite o embalo e pense nas barraquinhas explicativas que ele próprio gostaria de ver montadas no Calçadão de sua cidade!
(Do livro A Maldição Brasileira - Ilustração: Leila da Lapa)
Alceu A. Sperança é jornalista e escritor - alceusperanca@ig.com.br