Brasil impõe tarifas de 254% aos EUA e o buraco negro cresce
Alceu A. Sperança
Thomas Edison tinha um grande inimigo: Nikola Tesla. Stalin sentia urticária ao ouvir falar em Trotsky. Mussolini odiava Sante Pollastri, um ciclista. Os astros do cinema Sylvester Stallone e Richard Gere ficaram de mal por causa de um sanduíche.
Kennedy tinha os piores inimigos que alguém poderia ter em seu tempo: o Departamento de Estado dos EUA e o Pentágono. Pisando em ovos, ele dizia: "O grande inimigo da verdade não é principalmente a mentira (deliberada, controversa e desonesta), mas o mito (persistente, persuasivo e não realista)".
Traduzindo para o vulgar: o que mais nos afasta da verdade nem são as besteiras que os outros dizem, mas as ilusões teimosas que metemos na cabeça.
Perder um só segundo com idiotices na internet envolvendo um inimigo é dar seu tempo a ele. Comentar com raiva ou ironia é lhe dar a vitória: ela roubou seu tempo e atenção, engordou o algoritmo da besteira e favoreceu o provocador.
Ao ver que os inimigos postaram idiotices, a melhor resposta é uma silenciosa ignorada e rir sozinho da cara deles porque só conseguiram roubar sua atenção por um segundo, mas não o tempo extra que lhe teriam tomado se você tentasse reagir com alguma lacração. Comentar posts idiotas é o pior emprego de tempo que se conhece.
Edison? Que Edison?
Está provado que reagir com raiva faz mal. Os inimigos de Kennedy venceram porque ele reagiu agressivamente. E hoje se fala muito mais em Tesla que em Edison, trapaceiro que se deu mal.
Há um mundaréu de trotskistas em todos os lugares, mas os estalinistas rarearam. Mussolini foi pendurado num posto de gasolina, crivado de balas, e os ciclistas continuam rodando.
A raiva despertada por postagens imbecis só rende vantagens ao provocador. O post idiota é como se fosse o adubo e a raiva do indignado a fruta colhida no pomar das emoções humanas.
Essa técnica é chamada Rage Bait (lançar uma isca para provocar raiva). Serve ao propósito malandro de ganhar dinheiro às custas da indignação alheia. Se você fica com raiva e reage, foi fisgado.
Principalmente se comentar chamando alguém de "ladrão" ou "nazista". Mesmo que apague a postagem, anos mais tarde ela pode virar prejuízo para quem vende o almoço pra comprar a janta. Insultar produz provas contra o insultador.
Ironicamente, quanto mais um sujeito responde a postagens e agride os provocadores nas redes sociais, mais os divulga, promove, põe em evidência e até dá dinheiro via processo por injúria. Quem reage mordendo a isca (bait ou hoax) gera provas contra si mesmo.
Ler direito evita enganos
Muita raiva, aliás, vem do stress de não ler com atenção. É fácil olhar e entender errado. Na imagem anexa, por exemplo, o buraco negro parece aumentar, mas é uma impressão falsa, mera ilusão de ótica. Não aumenta e é impossível aumentar.
Por isso há casos em que o sério parece brincadeira e o chiste é levado a sério, mas isso pode induzir a reações perigosas. Que tal alguns testes? Advertimos que a partir de agora sua atenção será alvejada.
O estrepitoso caso das tarifas
Em 2 de abril de 2024 o Brasil anunciou fortes tarifas de 20% sobre produtos de todos os países do mundo. A exceção foi o tarifaço de 254% sobre os EUA, país com o qual o Brasil pretende polarizar no mundo em lugar da China, essa comunista.
No mesmo dia a oposição entrou no STF com pedido para derrubar a medida e assim os efeitos das tarifas ficaram suspensos até o julgamento.
Dois meses depois, o mais aparecido dos juízes pediu vistas por 90 dias, enquanto o Congresso instalou uma comissão mista para modificar os percentuais, com prazo de 120 dias para forjar uma bela pizza.
Enquanto isso tudo, cada Estado criou triangulações para driblar as tarifas. Em 2 de abril de 2025 ninguém se lembrava mais dessas tarifas. Você mesmo não lembra mais, né?
Você decide
Uns dirão que o texto é gozação porque essa decisão jamais foi nem poderia ser tomada, pois governar por meio de tarifas é estúpido. Outros dirão que o problema de prazos na Justiça e no Congresso é coisa muito séria. Demoram tanto que é fácil a coisa cair no esquecimento antes de passar um ano.
Enfim, o texto é claramente falso. Mas os próximos são provas de fogo.
A mina mágica
A Serra Verde, em Minaçu (GO), é uma rara mina de terras raras. Ela fornece cobiçados metais para construir veículos elétricos, turbinas eólicas, mísseis guiados e robôs. Mina igual não se acha em nenhum outro lugar do Ocidente, ó patriotas ufanos de seu país.
Criada no Brasil por investidores dos EUA, é a única fora da Ásia que produz tantos metais raros. Com a guerra comercial detonada por Mr. Trump, ela é estratégica para os EUA mirando sua projetada recuperação industrial.
Só que a mina tem contrato de fornecimento desses cobiçados metais exclusivamente para a China, único país em condições de processar sua produção, segundo Thras Moraitis, CEO da empresa, autor do livro "Liderando o Negócio: O segredo para uma aquisição e integração bem-sucedidas".
Tem todo jeito de ser mentira, não é? Só que é verdade (https://x.gd/KbOgk).
O chinês que aplaudiu Trump
O economista Li Daokui, professor da Universidade Tsinghua, de Pequim, especialista em assuntos dos EUA, afirmou que as bandalheiras tarifárias de Donald Trump foram um desastre para o mundo, mas para a China será a glória: a ruína americana causada pelas estripulias do presidente gringo vai transformar o país oriental na maior potência mundial.
Para Daokui, sempre que os EUA criam alguma restrição ao desenvolvimento chinês, este país se une e supera amplamente o desafio.
Assim foi a tentativa de esmagar a Huawei, que deu a volta por cima em uma operação gigantesca, criando o que se considerava impossível - um sistema operacional próprio. Agora, até um chip (Ascend 910C) tão bom quanto o da Nvidia.
Da mesma forma, a intensificação da corrida pela inteligência Artificial com seus custos estratosféricos estava destinada a asfixiar o resto do mundo e dar aos EUA ampla vitória, mas aí o DeepSeek atingiu a jugular do sistema, barateando imensamente os custos. Quem torrou fortunas nessa aposta, perdeu.
Esta notícia dá a impressão de ser gozação, por conta do sobrenome (real) de Li Daokui, com aparência de chulo, mas é totalmente verdadeira (https://x.gd/U6gnI. (Imagem: Reprodução)
Alceu A. Sperança é escritor e jornalista - alceusperanca@ig.com.br