O Paraíso roubado
J. J. Duran
Manipular a informação não muda a realidade. Apesar das diferentes culturas e de suas origens históricas como repúblicas, os países indo-americanos parecem se mover no mesmo ritmo nos assuntos políticos e econômicos, que ciclicamente sacodem os alicerces de suas titubeantes democracias.
O caudilho, o líder paternalista e o autoritário, junto com as mais diversas pantomimas fascistas, são parte da matiz incolor na qual a democracia reconquistada, porém não vigente na plenitude, faz do Estado senhor e dono absoluto.
Por natureza e costume, o indivíduo indo-americano é politicamente pendular. Assim também é a fidelidade política partidária. E não falemos de ideologia, que é pouco conhecida no debate quotidiano e se movimenta conforme o rosário de futuras realizações que o governo de turno oferta para os eternos esperançosos homens e mulheres do povo.
Por um curto espaço de tempo o povo, crente nos milagres prometidos, se esbalda com o projeto sociopolítico do novo líder e as benesses por ele oferecidas, mas, passado o tempo da euforia, aparecem os decretos de sinceridade econômica nos quais o rosto do líder da vez, seja de direita, esquerda ou de centro, surge finalmente com a expressão da realidade.
A temível inflação, filha nefasta do descalabro das contas públicas, volta a se fazer presente nas prateleiras dos supermercados e o simples homem da rua, que votou no líder de plantão, passa a se sentir órfão desiludido com o paraíso que lhe prometeram, mas não entregaram.
O indo-americano é um ser fatalista, que atua coletivamente demonstrando medo e minimizando o protagonismo individual que lhe cabe como parte fundamental dos escritores da história e se converte num negativista em relação ao futuro.
Porém, nesse futuro sempre aparece o rosto do líder prometedor de um paraíso diferente, no qual o pêndulo da história só vai reservar outro paraíso, porém num futuro distante, com o Estado continuando a se manter ausente da vida política e econômica da sociedade menos favorecida.
E assim caminhamos, sem o devido castigo aos culpados pelo paraíso roubado - todos eles, sem exceção, repousando em biografias maquiadas e que os classifica como heróis da Pátria. (Imagem: Reprodução)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná