Delação premiada, um fracasso moral (final)
J. J. Duran
Entre jornalistas ouve-se dizer que o general Braga Netto, hoje na reserva, trocou a farda pelo terno e exerceu nas sombras do Governo Bolsonaro um poder muito grande e que, apesar de avesso à publicidade, o converteu num político com evidente sagacidade e manipulador do governo civil eleito democraticamente.
A pergunta que não quer calar é: por que um governo eleito por ampla maioria, com uma linha renovadora da velha corrente oxidada da política tupiniquim, foi infiltrado pelos militares da "irmandade" do Haiti?
São sempre bem-vindos os militares que, sem farda, ofertam seus valorosos conhecimentos aos governos políticos, porém em gabinetes sem maior relevância política.
Na platina Buenos Aires, o poder militar se retirou e se converteu, pós-1978, em poder camuflado nos diferentes governos civis.
No Brasil, a presença do grupo do Haiti teve poder e influência decisiva na linha da gestão Bolsonaro, provocando fissuras internas significativas como foi a saída do general Santos Cruz, um militar altamente conceituado e competente, que se retirou por conta de divergências justamente com o general Braga Netto, de acordo com a imprensa.
Ao retornar, o grupo militar que esteve no Haiti montou no Palácio do Planalto uma alegre convivência com o grupo político governante, em boa medida favorecido pela linha dura do bolsonarismo raiz, sobremaneira da família do presidente.
Esse grupo de generais, coronéis e outras graduações se considera a elite militar e, no papel político, teve valiosa prestação de serviço na difusão do governo do ex-capitão.
Isso tudo pavimentou o caminho para a delação premiada, desfecho triste da passagem da direita raivosa pelo poder. (Foto: Marcos Corrêa/PR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná