Judiciário avança, mas não está imune à desigualdade de gênero
Embora mais da metade da população brasileira seja do sexo feminino, apenas 19% das vagas nas cortes superiores da Justiça são ocupadas por mulheres. Esse índice reflete a histórica desigualdade de gênero do País, identificada em todas as camadas da sociedade.
Mas aos poucos a situação começa a mudar. No Paraná, por exemplo, 38% dos magistrados são mulheres, sendo 42% na Justiça Estadual; e desde fevereiro, pela primeira vez na história, o TJ-PR (Tribunal de Justiça do Paraná) passou a ser presidido por uma mulher, a desembargadora Lidia Maejima.
Refletir sobre a desigualdade de gênero no Judiciário, compartilhar experiências e debater soluções para problemas comuns foram alguns dos temas abordados no evento "Diálogos sobre o Dia Internacional da Mulher", promovido pela Diretoria Jurídica da Itaipu nesta segunda-feira (17), em Foz do Iguaçu.
O encontro teve a participação das desembargadoras do TJ-PR Renata Estorilho Baganha, Priscilla Placha Sá e Cristiane Tereza Willy Ferrari, atual coordenadora da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar, gestão 2025-2026.
O diretor jurídico da Itaipu, Luiz Fernando Delazari, e a assistente Ana Paula Zanatta abriram os trabalhos e deram as boas-vindas às participantes. "A ideia é conhecer a experiência das desembargadoras para que elas possam servir de espelho, ou seja, um incentivo para que cada vez mais as mulheres alcancem postos de liderança", explicou o diretor.
A desembargadora Renata Estorilho Baganha coordenou o painel de discussão e falou sobre a experiência do grupo Antígona, um coletivo de magistradas do TJ-PR criado durante a pandemia para discutir questões de gênero e igualdade. Hoje, o grupo tem mais de 220 participantes, que interagem no aplicativo WhatsApp e compartilham informações e reflexões em uma página do Instagram.
De acordo com Renata Estorilho, a iniciativa da Itaipu em debater equidade na empresa vai ao encontro das preocupações do próprio TJ-PR. "Eu acho que foi genial porque a ideia que nós temos no Tribunal também é isso: fomentar espaços em que possamos discutir essas questões a respeito da equidade de gênero, de enfrentar as nossas dificuldades como seres humanos", afirmou.
Cristiane Tereza Willy Ferrari trouxe números sobre a participação feminina na Justiça brasileira e paranaense e os desafios para superar as barreiras do preconceito. Na magistratura desde a década de 1990, ela observou que o número de juízas cresceu muito nos últimos anos, mas ainda há muito a avançar nos tribunais superiores - o STF, por exemplo, hoje só conta com uma mulher, a ministra Carmen Lúcia.
Em sua participação, Priscilla Placha Sá apresentou quatro peças publicitárias (algumas recentes, outras mais antigas) que reforçam o preconceito com base no sexo da pessoa e mostram o quanto o machismo e a misoginia ainda contaminam a sociedade. Ela também deu exemplos de como a questão é tratada dentro do Judiciário e as conexões que percebe com outros setores da sociedade.
"Eu costumo dizer que se a gente fosse nos mais diversos espaços, sejam eles públicos, privados, mesmo organizações não instituídas, coletivos dos mais variados, na academia, numa escola, os dilemas seriam os mesmos. Obviamente que talvez em escalas diferenciadas. Mas os mesmo desafios e aquilo que tem sido feito de positivo, em cada lugar, vale que a gente replique, aprenda, refine e expanda", comentou. (Foto: Sara Cheida/Itaipu)