Antes marginalizado, campo mostra força política e influencia as eleições
De patinho feio, há algum tempo, a cisne da lagoa nas eleições deste ano, o articulado setor da agropecuária conseguiu evidenciar seu peso político e despertou o interesse de boa parte dos presidenciáveis. Não à toa, o setor que segurou a economia brasileira nos anos de crise e serviu de porto seguro para as instabilidades que assolaram o Brasil foi levado em conta para a formação de boa parte das chapas presidenciais.
"O papel político do setor agropecuário decorre do fato de eles serem a âncora da economia brasileira. Sobretudo depois da crise, que começou justamente no último trimestre de 2014, eles viraram a solitária âncora da economia brasileira", avaliou o cientista político da Universidade de Brasília e analista de empresas em análise de risco Paulo Kramer a Paulo Whitaker, da agência Reuters.
A força política do setor também decorre, na opinião de Kramer, da compreensão de seus representantes, ainda na época da redemocratização, da importância de se organizarem institucionalmente, inclusive no Legislativo do País.
"Eles perceberam muito cedo, mais até do que outros setores, que era necessário eles se articularem no Congresso", avaliou. "Por isso eles têm força e sabem se articular bem".
Tanto é que um dos grupos mais articulados e influentes no Congresso é a Frente Parlamentar Mista da Agropecuária, com 227 deputados e 27 senadores inscritos, alguns fora do exercício.
"A sociedade urbana brasileira está se dando conta da importância do agronegócio. A sociedade passou a reconhecer a importância do agro na economia, no PIB, nos empregos, e nas exportações", avaliou o ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas, Roberto Rodrigues.
"Eu acho que está ?pegando? isto. A tal ponto que nenhum candidato hoje pode ignorar a agricultura. Mais do que isto, todo o candidato hoje tem que se referir à agricultura. Com maior ou menor ênfase", afirmou Rodrigues, lembrando das chapas presidenciais constituídas de olho no setor.
Vale ressaltar que o agro é responsável por 32%o dos empregos gerados no País e registrou saldo comercial positivo de quase US$ 82 bilhões, enquanto todos os demais setores tiveram déficit próximo de US$ 15 bilhões. Em 2017 as exportações do agronegócio corresponderam a 44 por cento do total.
CANDIDATURAS
A chapa do tucano Geraldo Alckmin escolheu como companheira na disputa a senadora Ana Amélia (PP-RS), aguerrida representante do setor, muito expressivo no Sul do país.
Já o candidato Ciro Gomes (PDT), que não conta com a simpatia de ruralistas, convidou para sua chapa a ex-ministra da Agricultura e ex-presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), senadora Kátia Abreu (PDT-TO).
Na mesma linha, Alvaro Dias, que disputa o Planalto pelo Podemos, traz como candidato a vice o economista Paulo Rabello de Castro. Ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), tem posicionamento economicamente liberal e iniciou sua carreira na Sociedade Rural Brasileira.
Outra chapa fortemente ligada ao setor é a do Novo. Encabeçada por João Amoêdo, muito bem visto pelo mercado financeiro, traz como candidato a vice o professor Christian Lohbauer, mestre e doutor em Ciência Política, ex-vice-presidente de Assuntos Corporativos da Bayer no Brasil e presidente executivo da CitrusBR, além de ter ocupado a diretoria executiva da Abef (Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos) e atualmente é diretor da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio).
Ainda que não tenha uma ligação direta com o setor, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) é um dos que deve abocanhar boa parte dos votos do campo. Segundo a coordenadora da Frente Parlamentar Mista da Agropecuária, deputada Tereza Cristina (DEM-MS), que chegou a ser cotada para a vice de Alckmin, há outras candidaturas que trazem propostas interessantes para o produtor rural, mas Bolsonaro conseguiu a simpatia da área com propostas como a flexibilização das regras para o porte de armas, algo que colou entre os produtores, que temem a migração da violência da cidade para o campo.
"Mas tem muita gente falando em Alckmin, porque tem uma proposta interessante para o setor, e Alvaro Dias, pela sua experiência no Paraná bem-sucedida no agronegócio", pontua a deputada, ressaltando que o campo ainda encara "com receio" as candidaturas de Ciro Gomes e de Marina Silva (Rede).
PLANO
Desta vez os presidenciáveis trataram não só de fazer acompanhar de representantes do setor agro, mas também de lembrar do campo na elaboração de suas plataformas de governo. De todos eles, no entanto, o único que veio ao Oeste paranaense apresentar seu plano para a agricultura foi Geraldo Alckmin, que esteve em Cascavel no fim de junho, ainda na condição de pré-candidato. (Foto: Arquivo Alerta Paraná)