Para não esquecer
J. J. Duran
O grande escritor platino Mario Benedetti escreveu que "a infância às vezes é um paraíso perdido, mas outras vezes é um inferno". Pois nessa segunda avaliação estão hoje 473 milhões de crianças que vivem em total abandono.
Sempre que chega um novo ano os desejos são de felicidade, porém não podemos dar as costas a um flagelo que condena todos aqueles que se enriquecem com as guerras e aqueles que têm o poder de evitá-las, porém se calam e, quando muito, manifestam um fingido repúdio.
O mundo vive uma hora de devastação, com incêndios, ventos devastadores, enchentes e diferentes epidemias - principalmente a da fome, que mata sem os assustadores estrondos das bombas.
Enquanto isso, a covardia parece imprimir sua marca funesta nos corações daqueles que muito têm e muito pouco fazem para mitigar esse novo carvalho.
Por vezes, os inteligentes de plantão anunciam o terrível drama do abandono e a destruição calculada a que os poderosos submetem os "filhos da guerra".
Muitos seguem vendo esse crime universal como algo distante, ancorados no fato de Kiev e da Faixa de Gaza estarem a milhares de quilômetros, mas também cá já se percebe o drama de muitas vítimas dos desencontros ideológicos e dos interesses meramente comerciais.
Devemos olhar com muita atenção para o calvário desses 473 milhões de seres humanos condenados à morte lenta e inexorável carregando a "culpa" de terem nascido numa esquina infernal qualquer do planeta Terra.
Não devemos fechar os olhos e o coração a esse grande drama, pois a terra é lugar comum de todos nós e o mal penetra pelos menores vãos e se estende rapidamente.
Quando você fechar os olhos para ter o sono reparador de uma jornada de trabalho, não esqueça dessas crianças que já não têm mais nem lágrimas para implorar ajuda. (Foto: Tânia Rêgo/AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná