As borbulhas do ódio
J. J. Duran
Em seu livro "A Elite do Atraso", Jessé Souza imputa aos interesses da elite patrimonialista a adoção carinhosa do termo vira-lata para definir o homem brasileiro.
Mas hoje em dia o que parece escurecer é a liberdade, não a libertinagem usada por muitos usuários fervorosos das chamadas redes sociais em suas manifestações públicas.
A liberdade de expressão está ameaçada menos pela polarização político-eleitoral e mais pela polarização cultural hoje existente entre os chamados "intelectuais da nova ordem".
Diferente do que disse o presidente norte-americano Donald Trump no seu discurso de posse, nos EUA toda voz dissidente que se levanta contra o patrimonialismo deve ser calorosamente censurada.
Todavia, devemos dar sempre boas-vindas ao debate plural e construtivo, mas não ao debate da intolerância.
Para os enfurecidos defensores do ideário napoleônico, ou stalinista, que via de regra estão associados a interesses mesquinhos de intelectos que usam a liberdade de expressão como arma, o discurso de ódio é ferramenta usada para amedrontar os divergentes.
Estamos diante de um novo e falso amanhecer, que só vai agrandar ainda mais as desigualdades socioeconômicas que castigam a maioria esmagadora da sociedade.
Nesse cenário, os setores mais vulneráveis ficam à mercê da voracidade do "deus" mercado, sem proteção e sem tempo preciso de caducidade.
O discurso de crueldade é uma falácia e as novas medidas para ajuste da economia seguem fragilizando-a ainda mais, mantendo a pobreza em ritmo crescente e a cultura em ritmo decrescente.
Basta caminhar alguns quarteirões na minha querida Buenos Aires para ver como os falsos discursos têm feito crescer ainda mais a pobreza e o desamparo.
Há que conviver com as camadas mais necessitadas de um povo para depois opinar sobre ele.
Na política muito tocam de ouvido, por isso tocam fora do tom. (Fotos: Divulgação)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná