Presidentes desgraçados, povos endividados
Alceu A. Sperança
O presidente argentino Javier Milei caiu numa arapuca ao apostar na fracassada criptomoeda $LIBRA. Na Ucrânia, o comediante Volodymyr Zelensky, que antes fazia o povo rir, no poder fez seu país chorar lágrimas de sangue.
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, tentou um golpe para se manter no poder como ditador. Foi preso, claro. Tentativa de golpe é crime contra a Constituição e a Pátria em todos os lugares. Quem não sabe disso?
Nos EUA, o presidente Donald Trump foi condenado por 34 crimes e só está fora da prisão por ser presidente. Quer tomar o Canadá, o Canal do Panamá e a Groelândia, lembrando o presidente ugandês Idi Amin, que quis ser o rei da Escócia e se casar com a rainha Elizabeth II.
O venezuelano Nicolás Maduro está com a cabeça a prêmio por 25 milhões de dólares. O russo Vladimir Putin tem mandado de prisão decretado pelo Tribunal Penal Internacional. Lula driblou uma condenação, Bolsonaro aguarda julgamento.
O Ministério da Saúde não adverte, mas o presidencialismo faz mal à saúde. O Brasil já nem tem mais presidente, na prática, desde que Michel Temer virou o presidente menos popular da história.
Cozinhando o presidente
O Brasil foi empurrado pelo Centrão para o semipresidencialismo (ou semiparlamentarismo). A eleição de Davi Alcolumbre para a presidência do Senado e a de Hugo Motta para a Câmara Federal, ambos apoiados por Bolsonaro e Lula, vem sacramentar essa prática.
Nem é preciso lei para isso, pois é cômodo para o Centrão manter o presidente cozinhando em fogo lento e levando a culpa de tudo, como já ocorre desde Bolsonaro. Sem poder governar, o ex-capitão saiu a fazer motociatas, multado por não usar capacete.
Os povos governados por presidentes apresentam sinais assustadores de endividamento crescente. Primeiro-ministro pode ser tirado facilmente do poder, mas tirar presidente arruína um país: mistura a crise com tumultos causados pelos apoiadores do desgraçado.
Com presidentes ou primeiros-ministros, EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Países Baixos, Japão, Itália e Espanha são alguns dos países mais endividados do mundo.
E seus povos? Para ficar só no Brasil, 76% das famílias estão devendo até as almas, gastando com as quitações cerca de 30% dos ganhos, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor apurada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo.
Mil dias de insanidade
Nem só corintianos são-paulinos acreditam que as coisas loucas existem para confundir os sábios. Foram decisões presidenciais que arrastaram a guerra da Ucrânia por mais de mil dias.
Tem aquela história do menino travesso que estilhaçou a vidraça do vizinho. Fulo da vida, o vizinho prejudicado esmurrou o pai do moleque: decidiu punir o responsável pela má criação que resultou na travessura do piá.
Com Donald Trump e suas estripulias cabe esmurrar Joe Biden. Fez um governo tão desastroso que o eleitor americano preferiu o grotesco milionário a manter no governo os democratas, guerreiros que se fingem de moderninhos nos costumes enquanto descem o cacete no mundo, tipo morcego que morde e assopra ao mesmo tempo.
A guerra de 1.100 dias não é culpa do moleque republicano, mas do pai democrata, que ao perder o governo e a maioria no Congresso entregou a casa ao moleque Trump, onomatopeia de trombada.
4 anos e o rei na barriga
Como o assunto é molecagem, o filho de 4 anos do bilionário Elon Musk, que leva o estranho nome "X Æ A-XII", em cerimônia no Salão Oval da Casa Branca tirou meleca do nariz, que enfiou por baixo da mesa onde Trump trabalha, e mandou o presidente calar a boca, depois de dizer, claramente: "Você não é o presidente e precisa ir embora" (12/2/2025).
Não é audível, mas quando recebeu um olhar severo de Trump na hora da meleca, o menino teria mandado o homem mais poderoso do mundo se f*.
Crianças repetem o que ouvem e homens públicos que dizem palavrões desmerecem os cargos que ocupam. Aliás, dizer palavrões ao dar uma topada com o dedão é inocente, mas dirigi-los a outras pessoas é boçalidade.
O menino de Musk é mal-educado, de fato, mas o presidente Lula aconselhar os brasileiros a xingar quem lhes causa problemas não é comportamento decente para um homem de sua posição.
Que estranha doença mental é essa que faz o sujeito desbocado supor que sua ofensa vai convencer o ofendido a aceitar seus pontos de vista?
O insulto não tem nenhuma chance de convencer, nem ao ofendido nem a quem assiste, ouve ou lê o insulto. O efeito obtido é sempre o contrário da intenção de quem vomita a ofensa.
Xingar é comportamento idiota
Provavelmente as figuras públicas mais ofendidas do Brasil sejam Lula, Bolsonaro, Xandão e os governadores.
O resultado obtido pelas bocas sujas que os ofendem é um só: dar a eles o auge de sua popularidade, poder e milhões de votos nas eleições.
Confirmam a tradição política: "Fale bem ou fale mal, mas fale de mim". Fica bem claro que o insulto é uma poderosa forma de propaganda, que ao contrário de desmoralizar acaba por engrandecer o ofendido.
Desmoralizado fica o ofensor, colhendo o oposto do que pretendia. Stephen Hawking achava que os homens sábios iriam desenvolver a ciência a ponto de corrigir seus maus hábitos.
Quem sabe a vida pública não venha um dia a ter mais pessoas respeitosas e gentis que as bestas insultuosas hoje dominantes? Pessoas, porque de presidentes pouco se pode esperar. (Ilustração: Mescla)
Alceu A. Esperança é escritor e jornalista - alceusperanca@ig.com.br