Itaipu vai comprar R$ 240 mi em terras para abrigar povo indígena
Reunido ordinariamente nesta quinta-feira (27), o Conselho de Administração da Itaipu Binacional aprovou os termos do acordo judicial que autoriza a compra de 3 mil hectares de terras, em caráter emergencial, para serem destinados às comunidades indígenas avá-guaranis da região Oeste do Paraná. O valor fixado para o negócio é de até R$ 240 milhões, a serem pagos pela Binacional.
São parte do acordo o Ministério Público Federal, Comunidades Indígenas Avá-Guaranis da Região Oeste do Paraná, União, Incra, Funai e Comissão Nacional de Soluções Fundiárias do Conselho Nacional de Justiça, além da própria Itaipu. Uma vez assinado, o documento será encaminhado ao Supremo Tribunal Federal para homologação.
O acordo foi feito no âmbito do Procedimento de Resolução de Controvérsia aberto na Câmara de Mediação e de Conciliação, da Administração Pública Federal, e da Ação Civil Originária 3.555, movida pela Advocacia-Geral da União e que tramita no STF. A ação pede a reparação por violações a direitos humanos e fundamentais das comunidades indígenas afetadas pela formação do reservatório da usina, em 1982.
A escolha das áreas a serem adquiridas será feita pela Funai, em acordo com os próprios indígenas e seus representantes legais. O Incra será responsável pela avaliação dos imóveis, juntamente com servidores da Justiça estadual e/ou federal. Caberá à Itaipu apenas pagar pelos imóveis.
"As condições para a compra e venda referidas, notadamente o preço, forma e prazos de pagamento, deverão atender às condições de mercado e serão objeto de deliberação nas sessões de mediação, das quais participarão, obrigatoriamente, representantes da SPU (Secretaria de Patrimônio da União), do Ministério dos Povos Indígenas - MPI, do MPF, da Funai e do Incra", diz trecho do documento.
"A Itaipu Binacional mantém um compromisso histórico com as comunidades indígenas do Oeste do Paraná, e a decisão do Conselho de Administração é um passo para garantir a essas populações mais segurança, dignidade e qualidade de vida", declarou o diretor-geral brasileiro da Itapu, Enio Verri.
Ele disse esperar que a compra de terras e os demais compromissos constantes no acordo de conciliação contribuam para pacificar a região, palco de conflitos recentes. "A atual gestão da Itaipu, assim como o Governo Federal, sempre esteve comprometida na busca de soluções efetivas, que respeitem os direitos das comunidades indígenas e dos produtores rurais da região".
Já o diretor jurídico da Itaipu, Luiz Fernando Delazari, explica que a conciliação corre no STF. "Foi um longo processo de conciliação, com mais de 20 reuniões realizadas e com a participação ativa da Itaipu, que sempre concordou com a necessidade da reparação histórica as comunidades dos povos originários na região da Usina de Itaipu. Esperamos que o Supremo Tribunal Federal homologue este acordo que tem como um dos objetivos pacificar a região e evitar que mais atos de violência ocorram", observou.
COMPROMISSOS
Pelo acordo aprovado, a Itaipu deverá promover ações de restauração ambiental dessas áreas e implementar infraestrutura que garanta serviços essenciais, como fornecimento de água potável, energia elétrica, saneamento básico, saúde e educação - entre outros direitos.
Outro compromisso da binacional é a manutenção das ações do Programa Sustentabilidade das Comunidades Indígenas, que hoje atende a três aldeias formalmente constituídas na região: Tekoha Ocoy, em São Miguel do Iguaçu, e Tekoha Añetete e Tekoha Itamarã, em Diamante D’Oeste.
"Itaipu compromete-se a, nos projetos de sustentabilidade sob sua gestão, assegurar maior participação das comunidades indígenas, como forma de lhes conceder maior autonomia e emancipação, bem como o respeito às suas formas de organização social, conforme seus usos, costumes, línguas e tradições", assinala o documento.
O acordo de conciliação estabelece ainda que União, Funai Incra e Itaipu deverão elaborar e publicar um pedido público de desculpas aos avá-guaranis pelos danos causados na construção da usina, reconhecendo as responsabilidades da empresa. Essa manifestação deverá ser publicada na internet, nos sites das instituições, e em jornais de circulação local e nacional.
Vale lembrar que, ainda recentemente, a Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) se posicionou a respeito dizendo não haver interesse da parte dos agricultores da região em vender suas terras para esse fim. (Foto: Divulgação)