Quando intolerância é crime
Os políticos brasileiros (não todos, mas grande parte) têm a mania de criar leis elegendo determinadas datas para simbolizar causas das mais diversas. Mal comparando, que ninguém estranhe se num determinado evento festivo dominical alguém não conseguir chegar a tempo ao banheiro depois de ter um desarranjo intestinal repentino e, logo no dia seguinte, algum "representante do povo" se atrever a propor a transformação daquela data numa espécie de Dia da Disenteria ou coisa que o valha, só para lembrar o óbvio: que quando a barriga ronca, é hora de procurar um banheiro e torcer para que não haja fila.
O Paraná, por exemplo, projeto transformado em lei no ano passado tornou 9 de julho o Dia Estadual de Luta contra a Intolerância Política e de Promoção da Tolerância Democrática, como se eles (os políticos) costumassem ser tolerantes com seus oponentes.
Certamente não foi por causa dessa lei desnecessária, mas do "óbvio ululante" imortalizado por Nélson Rodrigues que a juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler decidiu fixar uma pena ainda mais dura que a inicialmente estimada ao lavrar a sentença condenatória do ex-policial penal Jorge Guaranho, réu confesso e agora oficialmente condenado pelo assassinato do tesoureiro petista Marcelo Arruda, morto com requintes de selvageria justamente no dia 9 de julho de 2022, em Foz do Iguaçu.
"A intolerância política, ou seja, o não aceitar que o outro tenha preferências políticas diversas das suas revela traço intolerante da personalidade do acusado, além de egoísta e egocêntrico, desrespeitoso com a opinião e a posição do outro", justificou ela, ao elevar de 12 para 20 anos a pena de Guaranho. "Por causa de tal intolerância, o acusado ameaçou todos os participantes da festa de morte, o que revela personalidade agressiva", acrescentou a magistrada.
Que isso sirva de alerta principalmente aos "gladiadores" das redes sociais, que costumam atacar sem dó nem piedade aos que ousam ter opiniões discordantes das suas, como se respeito fosse algo pura e simplesmente descartável. (Foto: Reprodução redes sociais)