Unidos pela impunidade!
Pouca coisa enoja e entedia mais os brasileiros medianamente esclarecidos do que esse debate dividindo o cenário político nacional em esquerda e direita, como se isso não fosse estratégia dos dois lados dominantes para inviabilizar a divisão deste bolo hipocritamente chamado "democracia" em mais que as duas fatias necessárias para encher a pança de seus augustos membros, que nutriram a vida toda verdadeiro nojo pela política verdadeiramente digna e construtiva.
"Não estão no nosso horizonte movimentos para trazer instabilidade ao País", desconversou no último fim de semana o novo presidente da Câmara, deputado Hugo Motta, após afirmar com todas as letras que não pretende pautar o pedido de impeachment de Luiz Inácio Lula da Silva por suposta pedalada fiscal.
Disse mais: que pretende colocar a pauta da segurança pública na ordem do dia, endurecendo penas para os crimes. "O parlamento precisa entender que precisamos tratar como uma questão de Estado ou nós vamos em 5, 10, 15 anos, presenciar um Brasil dominado por facções", justificou ele, como se isso já não estivesse acontecendo na maior parte do País.
Do outro lado, por meio de vídeo postado em suas redes sociais, o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou escapar, de propósito, a frase "quero acabar com a Lei da Ficha Limpa", dizendo-se arrependido de ter votado a favor dela quando deputado.
O capitão foi além, justificando sua tese ao fato de que, mesmo com a Lei da Ficha Limpa em vigor, as condenações em "segunda e terceira instâncias, que fariam com ele [Lula] continuasse inelegível, foram para o espaço", mas sem mencionar que o voto de minerva para devolver os direitos políticos ao ex-presidente foi dado justamente por seu apadrinhado Kássio Nunes Marques, e como se ele não fosse um dos beneficiários imediatos disso.
Resumindo: 2026 está logo ali e o Brasil, a despeito de caminhar celeremente rumo ao precipício econômico e moral, segue na mesma trilha política que o transformou em gigante cego, surdo e mudo a uma realidade cada dia mais ignorada por quem deveria encará-la de frente, e antes que seja tarde.
Se o Dr. Enéas (lembra dele?) ainda estivesse vivo, certamente faria um bem imensurável ao País não necessariamente sendo presidente da República, mas dizendo a pura verdade sobre aqueles que sonham com isso.