O discurso da crueldade
J. J. Duran
O presidente argentino Javier Milei introduziu no seu linguajar carregado de furiosas e chulas expressões sua brutalidade pessoal e o alto grau que tem de ressentimento ao que chama de "pobre casta" quando se refere à classe política platina.
Seus desaforados discursos são a expressão de simplificações linguísticas que impossibilitam, até para o observador mais atento, definir suas raízes ideológicas.
Observadores do meio jornalístico tradicional da cidade de Buenos Aires afirmam que Milei mistura o ideário do populismo de centro com o de um economicista conservador.
Porém, Milei tem pontos narrativos coincidentes com os de novos líderes da renascida direita com roupagem atualizada de centro, cujo representante mor é o velho-novo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.
Em recente encontro político e cultural realizado na Universidade de Buenos Aires, o filósofo platino Marcus Gabriel afirmou que Milei, Trump e Jair Bolsonaro, que já viraram personagens até de adesivos vendidos no Mercado Livre, são filhos da pós-modernidade que levou ao fim do conteúdo do vocábulo "verdade" - esse fim, agrego, foi potencializado no ecossistema midiático por alguns tresnoitados pensadores disfarçados de sociólogos.
Devemos reconhecer que esses três líderes das Américas têm o poder de paralisar o pensamento de muitas maiorias políticas que, cansadas do fracasso eleitoral de velhos compadres e comadres da política tradicional, optaram por acreditar no novo estilo de governar proposto pelos três novos professantes da verdade, ainda que com brutal aplicação contra aqueles que insistem em não se adaptar aos novos tempos e ao novo linguajar.
"Toda oposição é burra", disse Juan Domingo Perón em famoso discurso proferido no longínquo ano de 1945, porém há de se ressaltar que nos governos já cumpridos de Trump e Bolsonaro e no corrente de Milei a economia "tendão de Aquiles" da democracia moderna foi controlada e purificada.
Sim, pois neles quem está se dando melhor são os grandes grupos econômicos, e os que mais estão sofrendo com as novas políticas são os mais pobres, conforme análise que vem sendo feita por respeitados analistas da economia.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná