Saque é crime. Mas e daí?
De acordo com balanço divulgado no início da manhã desta quarta-feira (15), nada menos que 284 toneladas de drogas foram apreendidas em 2024, no Paraná, só pela Polícia Rodoviária Federal. Tinha "fumo", "pó" e "pedra" escondidos nos locais mais inusitados, como dentro de postes e peças mecânicas, em meio a uma carga de cavalos para parecer feno e até em um caminhão dos Correios, para não deixar dúvidas de que, no Brasil, o que é público muitas vezes também tem jeito e cheiro de privada.
Mas nada disso gerou repercussão tamanha quanto a do saque ao caminhão com toneladas de carne que tombou no último domingo, em Realeza, cujas imagens postadas nas redes sociais colocaram nosso Paraná no centro do noticiário internacional e ensejaram um oportuno pronunciamento da polícia para um fato que todos deveriam saber - se é que não sabem: que essa é uma prática criminosa e passível de multa e até de prisão dos envolvidos.
Mesmo quando os produtos estão espalhados na pista ou o veículo de carga foi abandonado pelo motorista, a conduta é equivalente ao crime de furto, que tem pena de um a quatro anos de reclusão. E se ele for cometido em grupo, pode ser considerado um furto qualificado, cuja pena pode ser ampliada para até oito anos de prisão.
Mas não é só: nos casos de saques, as investigações também podem identificar outros crimes, ainda mais graves e com penas mais duras. É o caso das situações em que os veículos são danificados para que as pessoas tenham acesso à carga, que foi justamente o que ocorreu nesse episódio de Realeza, já que os "churrasqueiros" de ocasião estouraram a porta da câmera fria para ter acesso à carga e sair correndo com enormes pedaços de carne nas costas.
Ratificando o que apontamos no comentário anterior, coisa boa não se pode esperar de um país onde muitos passam horas a fio nos botecos ou nas redes sociais execrando os políticos - na maioria das vezes não sem razão, é verdade -, mas não deixam escapar uma chance sequer de levar ao pé da letra a mensagem escrota daquele comercial de cigarros dos anos 1970, em que o craque Gerson, travestido de garoto propaganda, aparecia dizendo que fumava Vila Rica porque gostava de "levar vantagem em tudo".
É passada a hora de abandonar esse debate insosso fatiando o país em esquerda e direita, fruto de uma imensurável ignorância histórica e ideológica, e separar tudo entre certo e errado, que é, em última análise, a última coisa que realmente importa no convívio em sociedade.