Fogo e descaso transformam 200 anos de história em cinzas
Eram aproximadamente 3 horas da madrugada desta segunda-feira quando o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro deu por controlado o fogo que destruiu o Museu Nacional da Quinta da Boa Vista. A demora, de cerca de sete horas e meia, poderia ter sido bem menor não tivesse faltado água nos hidrantes que circundam o prédio, onde estavam guardados mais de 20 milhões de itens, divididos em coleções de paleontologia, zoologia, botânica, antropologia, arqueologia, entre outras. O lugar já foi residência oficial da família imperial brasileira. Dom João VI inaugurou em 1818 o museu com o nome de Museu Real.
"O arquivo do museu, de 200 anos de história do País, foi totalmente destruído", admitiu o diretor-adjunto Luiz Fernando Dias Duarte, acrescentando que houve descaso de vários governos, que simplesmente desprezaram uma série de pedidos para que o museu fosse restaurado e modernizado sobretudo em sua rede elétrica, provável origem do incêndio.
PRECIOSIDADES
Um dos mais importantes itens do museu era um fóssil humano achado em Lagoa Santa, em Minas Gerais, em 1974. Batizado de Luzia, ele fazia parte da coleção de antropologia. Trata-se do fóssil de uma mulher que morreu entre 20 e 25 anos e seria a habitante mais atinga das Américas.
Outra preciosidade era o maior meteorito já encontrado no Brasil, chamado de Bendegó e que pesa 5,36 toneladas. A pedra é de uma região do sistema solar entre os planetas Marte e Júpiter, tem mais de 4 bilhões de anos e foi uma das poucas coisas não consumidas pelo fogo.
Dom Pedro arrematou em 1826 a maior coleção de múmias egípcias da América Latina. São múmias de adultos, crianças e também de animais, como gatos e crocodilos, e que também estavam guardadas no museu.
Fundado por Dom João VI em 6 de junho de 1818 sob a denominação de Museu Real, o museu foi inicialmente instalado no Campo de Santana, reunindo o acervo legado da antiga Casa de História Natural, popularmente chamada "Casa dos Pássaros", criada em 1784 pelo vice-rei Dom Luís de Vasconcelos e Sousa, além de outras coleções de mineralogia e zoologia.
A criação do museu visava a atender aos interesses de promoção do progresso socioeconômico do País através da difusão da educação, da cultura e da ciência. Ainda no século XIX, notabilizou-se como o mais importante museu do seu gênero na América do Sul e em 1946 foi incorporado à Universidade Federal do Rio de Janeiro. (Foto: Vitor Abdala/AGBR)