Bem-vindo 2025
J. J. Duran
Tudo que se possa fazer em paz deve ser celebrado neste tempo de desenfreada violência, nas diversas formas e áreas.
Escrevo este último artigo do ano quase centenário e com vasto passado de militância em movimentos rebeldes platinos, que culminaram em lutas fratricidas no século passado.
Não tenho autoridade nem procuração para escrever em nome dos muitos lutadores rebeldes e utópicos sonhadores da liberdade daquela estúpida década em que a força se sobrepôs ao diálogo entre governantes e dissidentes.
Mas, nas jornadas mais sangrentas desse triste período, me apeguei à trilogia moral de minha vida temporal, representada pelo amor ao próximo, pela fé e pela esperança de superação desses dias turbulentos.
Nada foi mais difícil que manter viva a débil chama da esperança, dentro de um mundo dominado pelo ódio e pelo suicídio da fraternidade.
Apesar de ter sido parte de uma ignota legião de jovens que se insurgiram contra o autoritarismo despótico e a censura do pensamento, jamais escrevi que a culpa foi apenas dos outros.
Sempre fiz e faço minha reflexão a respeito desse lamentável tempo fratricida, em que "todos tivemos culpa".
Nos anos do penoso exílio, aprendi a silenciar as vozes que falavam de vingança, evitando que a luta fratricida se convertesse num verbalismo estéril e gerasse um novo ativismo suicida.
Vou chegando à etapa reflexiva da vida, mas sigo mostrando minha pobreza material e, com ela, meu apaixonado apego à honestidade alimentada ao lado da inefável Ana Maria e nossos "filhos da esperança".
Deixo aos netos que vão chegando uma biografia escrita com tinta violeta de sonhos, fracassos e algumas poucas vitórias efêmeras como provas de que, sendo um náufrago nesse oceano de amarguras, pude chegar à praia do além com um sorrido de gratidão ao Bom Judeu.
Feliz Ano Novo a todos. (Foto: Fernando Maia/Riotur)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná