O palanque da domesticação
J. J. Duran
Uma coisa é inquestionável na política brasileira: os eleitores que votam em candidatos de assídua presença na telona ou em destacadas notas nas páginas dos jornais são ínfima minoria. E as forças retrógradas que hoje aparecem no horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão são as mesmas que, aproveitando de certas benesses da imprensa, no curso de sua passagem pela vida pública sempre usaram a mídia para maquiar biografias maculadas nos muitos anos em que usufruíram dos privilégios outorgados pelos mandatos eletivos.
Urge reconhecer que o eleitorado brasileiro caminha para a eleição de outubro imerso num sistema republicano desgastado, no qual muitas das instituições políticas, econômicas e sociais se encontram falidas. Neste tempo de Operação Lava Jato, ainda que com dor no coração, há que se reconhecer que o voto caminha para o descrédito, a desmoralização e o vilipêndio, degradado que foi pela demagogia e corrompido que foi pelo poder econômico.
Foi essa demagogia que em sucessivas eleições anteriores prometeu um futuro sem desigualdades sociais, sem o opróbrio que significa morrer por falta de assistência médica, sem moradias dignas e sem uma educação capaz de formar indivíduos capazes de construir uma sociedade verdadeiramente humana.
Tudo que foi prometido em custosas campanhas de políticos financiados pelos corruptores da iniciativa privada para "idiotizar" os cérebros menos desconfiados. E ao término de cada uma delas, de imediato veio a descoberta de que o eleitor de boa-fé foi uma vez mais ludibriado.
Mais uma campanha chega e, uma vez mais, um grande esforço é feito para manter no poder figuras entre as menos dotadas de moralidade republicana. Não todas, é bem verdade, mas muitas, conforme deixou claro a ação da equipe do juiz Sérgio Moro e de outros magistrados e procuradores realmente imbuídos do propósito de passar o Brasil a limpo.
Por conta da atuação desses maus elementos políticos, a democracia passou a ser vista pelo eleitorado não como um eficiente sistema da liberdade de escolher, mas sim como um sistema sustentado na mentira e na mistificação.
O poder econômico, que sempre corrompeu o voto, tenta fazê-lo novamente, maquiando interesses espúrios com direitos reconhecidos, mas ainda não atendidos, e financiando candidaturas aprovadas por partidos que não se preocuparam com a qualidade de seus membros.
Isso tudo me faz lembrar uma frase do saudoso Leonel Brizola, para quem o horário eleitoral gratuito não passa de "uma verdadeira máquina para domesticar o povo".
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras