Autorretrato do passado
J. J. Duran
"Não tire as crianças das ruas, impeça que elas cheguem às ruas..." Atravessamos nos lábaros da história os vendavais próprios dos tempos de desencontro e do trânsito pelas trilhas dos "iluminados" eleitos democraticamente, mas para assassinar a democracia desde o poder.
Longos caminhos trilhamos na indo-América, nós da geração dos anos 1920, na busca da liberdade que nos permitisse viver com fraternidade e autêntica justiça social.
Pedimos, nos tempos da nossa juventude, para termos no diálogo respeitoso o necessário entendimento para elevar as concordâncias fraternais.
Procuramos "usar o direito de usar o direito" com a mesma liberdade que usavam e abusavam os salteadores da democracia pelas vias do conchavo e do poder econômico, nem sempre bem vindo.
Nesse passado, como no tempo atual, chegavam os ruídos fatais e sangrentos das guerras longínquas, porém tão próximas do coração das mães que perdiam seus filhos para a incompreensão.
Imersos no furacão devastador da intransigência irracional, sucumbimos como sociedade no abismo aberto entre o império da lei e a lei do império da força.
Ficaram nos anos do desencontro fratricida em quase todo o continente a juventude, a família, os amigos e as esperanças desenhadas nos tempos áureos da faculdade de jornalismo.
Muitas vezes, nas longas e solitárias noites impostas pelo exílio, muitos de nós bebemos as lágrimas amargas do esquecimento e até da rejeição de uma sociedade que nascia sob novas luzes.
Dia após dia a imprensa nos anunciava a partida em voo infinito de mais um amigo, mais um pedaço desse passado.
Por isso sigo escrevendo sobre aquele tempo com a lealdade imortal à verdade universal.
Aqueles que me rodeiam - como a família que o Bom Judeu um dia me deu nessa terra generosa chamada Brasil - sabem que no coração desse gringo ainda existe uma débil chama a iluminar o desejo de viver com liberdade e fraternidade.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná