G20, Lula, Milei, Xi Jinping...
J. J. Duran
Enquanto as desigualdades sociais se individualizam, aumenta o ressentimento dos mais vulneráveis com a globalização dos tristes efeitos da fome, filha bastarda da desigualdade, que castiga grandes segmentos da sociedade mundial.
No recente encontro da cúpula do chamado B20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alcançou um importante triunfo diplomático ao obter consenso sobre a declaração conjunta dos participantes no combate à fome.
A tensão pessoal registrada em todos os momentos do breve convívio entre Lula e o presidente argentino Javier Milei deu passagem também ao visível pragmatismo da diplomacia do encontro.
Em que pesem as profundas diferenças ideológicas existentes entre os dois, foi visível o progresso alcançado em áreas chaves da famosa cúpula do mundo globalizado.
Algo ficou devidamente registrado ao fim da cúpula do G20: que uma coisa é a relação pessoal entre mandatários e outra a relação entre os Estados membros de organizações multilaterais.
Fora da visão simplista sobre as diferenças ideológicas existentes entre Lula e Milei, o grande protagonismo da reunião foi do líder chinês Xi Jinping.
Num mundo que caminha rumo à multipolaridade, o colosso chinês marcou o fim da hegemonia ocidental na economia globalizada no que se refere às necessidades humanas de subsistência e os valores colocados à disposição para mitigar tanta fome e tanta desigualdade.
Cabe aqui um reconto: no ano de 1963, o presidente norte-americano J. F. Kennedy lançou, na cidade uruguaia de Punta Del Este, seu ambicioso programa "Aliança para o progresso", que unia fraternalmente os EUA aos países chamados subdesenvolvidos na luta para mitigar a fome.
Com a morte de Kennedy e o fim de sua tentativa vã de acabar com a desigualdade que castiga sem piedade os menos favorecidos, parece-me que a única imagem que nos deixa cada tentativa dessa ordem engendrada "pelos que mandam" é a da decadência e da catástrofe anunciadas.
O G20 firmou uma aliança com o objetivo de erradicar a insegurança alimentar até 2030. Alguém duvida que vem aí mais um fracasso? (Foto: Reprodução/Canal GovBr)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná