Acordo de Temer com Judiciário cheira mal, critica Rubens Bueno
Depois de ter sinalizado que aprovaria a proposta da equipe econômica de adiar o reajuste salarial dos servidores, o presidente Michel Temer decidiu manter o aumento do funcionalismo no próximo ano, deixando de herança para seu sucessor um passivo estimado em R$ 6,9 bilhões aos cofres públicos federais apenas em 2019. A decisão teria sido tomada de comum acordo com ministros do STF, garantindo um aumento de 16,38% no contracheque dos magistrados.
Relator do projeto que corta uma série de "penduricalhos" nos salários de autoridades e funcionários de alto escalão, regulamentando o teto salarial dos servidores públicos, hoje fixado em R$ 33,7 mil, o deputado federal paranaense Rubens Bueno criticou duramente a atitude de Temer, lembrando que foi ele próprio quem revelou que está negociando esse assunto com os ministros Dias Toffoli e Luiz Foz.
"Cheira muito mal um presidente investigado por corrupção negociar com integrantes da mais alta Corte do País a viabilização de um aumento salarial que eles mesmos se concederam. Ainda mais num cenário que o governo alega falta de recursos para os mais básicos investimentos públicos em saúde, educação e segurança. Chega a ser uma irresponsabilidade de ambas as partes", criticou Bueno.
Para o deputado, parece tratar-se de um arrumadinho. "Ameaçado de perder o auxílio-moradia, o Judiciário, agora com a ajuda de Temer, quer se livrar desse penduricalho que engordou seus salários por anos, mas incorporando essa verba ao salário. Em resumo, o que está se propondo é o seguinte: vamos fingir que não burlamos o cumprimento do teto salarial por anos. Incorporamos tudo no salário e pronto, está resolvido", disse Bueno.
Ao jornal Estadão, Temer justificou a medida. "Com isso não será preciso fazer nenhuma alteração no orçamento do Judiciário. As coisas se encaixam perfeitamente", disse. O jornal relatou ainda que para que o arranjo se transforme em um projeto de lei, faltam alguns detalhes técnicos e legais. Mas logo, segundo Temer, a proposta será finalizada.
Para Bueno, trata-se de uma contradição. Ele lembra que o próprio governo que vinha incentivando a regulamentação do teto dos servidores agora arruma uma saída para "ficar de bem com o Judiciário". "É no mínimo estranho que esse assunto entre na pauta no apagar das luzes de um governo que possui diversos integrantes enrolados com a Justiça. Sem contar o gasto extra que isso vai gerar para os próximos governantes, já que o reajuste dos ministros do STF tem efeito cascata", concluiu. (Foto: Assessoria)