Nomes tradicionais, evangélicos e policiais dominarão nova Câmara
A próxima composição da Câmara dos Deputados terá o menor índice de renovação real, entendendo-se como tal apenas os nomes que nunca ocuparam cargos públicos. A renovação real será absolutamente residual. O que haverá será uma circulação no poder.
Segundo reportagem do jornalista Antônio Augusto de Queiroz no site Congresso em Foco, é isso que indica levantamento preliminar das empresas Queiroz Assessoria Parlamentar e Sindical e MonitorLeg, segundo o qual a maioria das vagas abertas em decorrência da desistência dos atuais deputados e da não reeleição serão ocupadas majoritariamente por ex-ocupantes de cargos públicos - nomeados ou eleitos - caracterizando uma circulação no poder e não renovação de fato.
De acordo com os dados preliminares, dos atuais 513 deputados, 407 tentarão a reeleição, além de outros 18 suplentes que assumiram mandatos nesta legislatura, a grande maioria com condições reais de eleição.
Para disputar as vagas que não forem preenchidas por esses candidatos que exerceram mandatos na atual legislatura, existe um exército de candidatos que já exerceram cargos públicos, e que são competitivos, porque têm nomes conhecidos e serviços prestados.
O maior número de postulantes a uma vaga na Câmara dos Deputados, com reais chances de eleição, vem das assembleias legislativas. Pelo menos 104 deputados estaduais concorrem a deputado federal. O segundo maior contingente de candidatos competitivos são ex-deputados federais, 50 ao todo. O terceiro grupo é formado por ex-secretários estaduais, num total de 27.
Ainda entre os candidatos competitivos, existem seis senadores, entre os quais Aécio Neves (PSDB-MG) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), que concorrem à Câmara com grandes chances de eleição, cinco ex-governadores, como Camilo Capiberibe (PSB-AP) e Ana Júlia Carepa (PT-PA), igualmente com muita chance de eleição, e três ex-ministros de Estado, entre os quais Marcelo Calero (PPS-RJ) e Alexandre Padilha (PT-SP), que podem conseguir se eleger deputado federal. Além disso, também concorrem 18 suplentes muito bem votados na eleição de 2014, mas que não tiveram a oportunidade de exercer o mandato.
RELIGIOSOS E POLICIAIS
Nesse cenário, sobrarão muitas poucas vagas para os efetivamente novos, entendidos como tais aqueles candidatos que nunca exerceram cargos públicos na vida. E sobre esses cabe uma reflexão particular, considerando a expectativa da população - que vai ser frustrada - por uma renovação grande e qualitativa.
Pelos dados preliminares do referido levantamento, essas poucas vagas a serem preenchidas pelos candidatos que nunca exerceram cargos públicos, serão ocupadas por candidatos oriundos das igrejas evangélicas e policiais ativos e reformados, além de parentes de políticos tradicionais.
A participação de endinheirados na eleição proporcional, por força da drástica redução do tempo de campanha e da limitação dos gastos, não terá tanta importância como nos pleitos passados, perdendo espaço para as oligarquias e para beneficiários do momento conservador e moralista-justiceiro que vive o Brasil, especialmente os evangélicos, policiais linha dura e parentes de políticos tradicionais. (Antônio Cruz/AGBR)